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Shinjuku, Tóquio

Capítulo 1 A revolução capitalista

Como o capitalismo revolucionou nossa forma de viver e como a economia tenta compreender este e outros sistemas econômicos

  • Desde o século XVIII, a elevação do padrão de vida médio tornou-se característica constante da realidade econômica em muitos países.
  • Esse processo está associado ao surgimento de um novo sistema econômico chamado capitalismo, no qual a propriedade privada, os mercados e as empresas desempenham papel fundamental.
  • Sob essa nova forma de organização econômica, os avanços tecnológicos, assim como a especialização em produtos e tarefas, aumentaram a quantidade de bens que podiam ser produzidos em um dia de trabalho.
  • A revolução capitalista, como denominamos esse processo, vem acompanhada de crescentes ameaças ao meio ambiente e de desigualdades econômicas globais sem precedentes.
  • A ciência econômica é o estudo de como as pessoas interagem, entre si e com o meio ambiente, ao produzirem seu sustento.

No século XIV, o estudioso marroquino Ibn Battuta descreveu Bengala, na Índia, da seguinte forma: “Um território de grande extensão, no qual o arroz é extremamente abundante. De fato, não conheço nenhuma região na terra onde haja tamanha fartura.”

Ele conhecera grande parte do mundo, tendo viajado para a China, a África Ocidental, o Oriente Médio e a Europa. Três séculos depois, no século XVII, o comerciante de diamantes francês Jean Baptiste Tavernier expressou o mesmo sentimento ao escrever sobre a Índia:

Até mesmo nas menores aldeias, arroz, farinha, manteiga, leite, feijão e outros vegetais, açúcar e doces, secos e molhados podem ser adquiridos em abundância.1

Na época das viagens de Ibn Battuta, a Índia não era mais rica que outras partes do mundo, mas também não era mais pobre. Um observador da época teria notado que, em média, as pessoas tinham melhor nível de vida na Itália, na China e na Inglaterra do que no Japão ou na Índia. Contudo, a enorme diferença entre ricos e pobres, que o viajante notava onde quer que fosse, era muito mais gritante do que as diferenças entre regiões. Conforme a região em que viviam, ricos e pobres tinham títulos diferentes: em alguns lugares, eram senhores feudais e servos; em outros, realeza e súditos, escravistas e escravizados, ou mercadores e marinheiros que transportavam suas mercadorias. Naquela época — assim como hoje em dia — as perspectivas de vida das pessoas dependiam de onde seus pais se encontravam na pirâmide socioeconômica, e também, de ser homem ou mulher. A diferença entre o século XIV e os dias atuais é que, naquela época, o local de nascimento ou a nacionalidade eram muito menos importantes.

Se avançarmos para os dias de hoje, a população indiana está muito melhor do que há sete séculos em termos de alimentação, assistência médica, moradia e atendimento de necessidades básicas. Porém, de acordo com os padrões mundiais contemporâneos, a maioria dos indianos é considerada pobre.

Ibn Battuta (1304–1368) foi um comerciante e viajante marroquino. Suas viagens, que duraram trinta anos, levaram-no ao norte e oeste da África, ao Leste Europeu, ao Oriente Médio, ao sul e centro da Ásia e também à China.

A Figura 1.1a conta um pouco dessa história. Para comparar o padrão de vida em cada país, utilizamos uma medida chamada PIB per capita. As pessoas obtêm sua renda produzindo e vendendo bens e serviços. O PIB (Produto Interno Bruto) é o valor total de tudo o que é produzido em determinado período, por exemplo, em um ano. De modo que, neste caso, o PIB per capita corresponde à renda média anual. O PIB também é chamado de renda interna bruta. Na Figura 1.1a, a altura de cada linha é uma estimativa da renda média na data indicada no eixo horizontal.

O taco de hóquei da história
: O taco de hóquei da história: O produto interno bruto per capita em cinco países (1000–2018).
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O taco de hóquei da história

Figura 1.1a O taco de hóquei da história: O produto interno bruto per capita em cinco países (1000–2018).

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

De acordo com esta medida, as pessoas na Grã-Bretanha estão em uma situação seis vezes melhor, em média, do que aquelas que estão na Índia. Os japoneses são tão ricos quanto os britânicos mas agora o padrão de vida dos americanos é mais elevado que o dos japoneses, e ambos são ultrapassados pelos noruegueses.

Podemos criar o gráfico da Figura 1.1a graças ao trabalho de Angus Maddison, que se dedicou à busca pelas escassas informações necessárias para o importante trabalho de comparar como as pessoas viviam durante mais de mil anos (O Projeto Maddison dá continuidade ao seu trabalho). Neste curso, você verá que dados como estes, sobre as regiões do mundo e seus habitantes, são o ponto de partida da ciência econômica. No vídeo a seguir, os economistas James Heckman e Thomas Piketty explicam como a coleta de dados tem sido fundamental para suas pesquisas sobre desigualdade e sobre políticas para reduzi-la.

1.1 Desigualdade de renda

Mil anos atrás, do ponto de vista econômico, o mundo era plano. Apesar de existirem diferenças de renda entre as regiões do mundo, como vemos na Figura 1.1a, essas diferenças eram pequenas em comparação ao que estava por vir.

Hoje em dia, em termos de renda, ninguém acredita que o mundo seja plano.

A Figura 1.2 mostra a distribuição de renda entre os países e dentro de cada um deles. Os países estão organizados por PIB per capita, indo do mais pobre, à esquerda do diagrama (Libéria), ao mais rico, à direita (Singapura). A largura da barra de cada país representa sua população.

Há dez barras para cada país, uma para cada decil de renda. Suas alturas representam a renda média — em dólares americanos de 2005 — de 10% da população, indo dos 10% mais pobres, na frente do diagrama, até os 10% mais ricos, na parte de trás. Note que não estamos falando “dos 10% mais ricos entre aqueles que possuem uma fonte de renda”, mas sim dos 10% da população total, assumindo-se que cada pessoa de um domicílio (incluídas as crianças) tem igual participação na renda familiar.

Os arranha-céus (as colunas mais altas) na parte de trás do lado direito da figura representam a renda dos 10% mais ricos nos países mais ricos. O arranha-céu mais alto representa os 10% mais ricos em Singapura. Em 2014, esse seleto grupo tinha uma renda per capita de mais de US$ 67 mil. A Noruega, país com o segundo maior PIB per capita, não tem um arranha-céu particularmente alto (escondido entre os arranha-céus de Singapura e do terceiro país mais rico, os Estados Unidos), porque a renda é mais uniformemente distribuída na Noruega do que em outros países ricos.

A análise da Figura 1.2 mostra como a distribuição de renda mudou desde 1980.

Distribuição mundial de renda em 2014
: Da esquerda para a direita, os países são classificados do menor ao maior PIB per capita. Para cada país, as alturas das barras mostram a renda média por decil da população, começando com os 10% mais pobres na frente e os 10% mais ricos atrás. A largura da barra indica a população do país.
Distribuição mundial de renda em 2014
: Da esquerda para a direita, os países são classificados do menor ao maior PIB per capita. Para cada país, as alturas das barras mostram a renda média por decil da população, começando com os 10% mais pobres na frente e os 10% mais ricos atrás. A largura da barra indica a população do país.
Distribuição mundial de renda em 2014
: Da esquerda para a direita, os países são classificados do menor ao maior PIB per capita. Para cada país, as alturas das barras mostram a renda média por decil da população, começando com os 10% mais pobres na frente e os 10% mais ricos atrás. A largura da barra indica a população do país.
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Distribuição mundial de renda em 2014

Figura 1.2 Da esquerda para a direita, os países são classificados do menor ao maior PIB per capita. Para cada país, as alturas das barras mostram a renda média por decil da população, começando com os 10% mais pobres na frente e os 10% mais ricos atrás. A largura da barra indica a população do país. Está disponível uma visualização interativa da Figura 1.2, com o conjunto de dados correspondente.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico.

Os mais ricos e os mais pobres
: Em Singapura, o país mais rico na extremidade direita do gráfico, a renda média dos 10% mais ricos e dos mais pobres é de US$ 67.436 e US$ 3.652, respectivamente. Na Libéria, país na extremidade esquerda do gráfico, as rendas correspondentes são US$ 994 e US$ 17.
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Os mais ricos e os mais pobres

Em Singapura, o país mais rico na extremidade direita do gráfico, a renda média dos 10% mais ricos e dos mais pobres é de US$ 67.436 e US$ 3.652, respectivamente. Na Libéria, país na extremidade esquerda do gráfico, as rendas correspondentes são US$ 994 e US$ 17.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico

Arranha-céus
: As barras dos arranha-céus à direita e ao fundo da figura correspondem às rendas per capita dos 10% mais ricos em alguns dos países mais ricos do mundo.
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Arranha-céus

As barras dos arranha-céus à direita e ao fundo da figura correspondem às rendas per capita dos 10% mais ricos em alguns dos países mais ricos do mundo.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico

Distribuição mundial de renda em 1980
: Em 1980, o ranking de países por PIB era diferente. Os países mais pobres (vermelho escuro) eram Lesoto e China. Os mais ricos (verde escuro) eram a Suíça, a Finlândia e os Estados Unidos. Naquela época, os arranha-céus não eram tão altos: a diferença entre os 10% mais ricos e o restante da população não era tão significativa.
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Distribuição mundial de renda em 1980

Em 1980, o ranking de países por PIB era diferente. Os países mais pobres (vermelho escuro) eram Lesoto e China. Os mais ricos (verde escuro) eram a Suíça, a Finlândia e os Estados Unidos. Naquela época, os arranha-céus não eram tão altos: a diferença entre os 10% mais ricos e o restante da população não era tão significativa na maioria dos países.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico

Distribuição mundial de renda em 1990
: Pelas cores, é possível observar que alguns países mudaram de posição entre 1980 e 1990. A China (em vermelho escuro) agora é mais rica. Uganda, também em vermelho, está no meio da distribuição dos países em amarelo. Alguns arranha-céus mais altos surgiram: a desigualdade aumentou em muitos países durante os anos 1980.
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Distribuição mundial de renda em 1990

Pelas cores, é possível observar que alguns países mudaram de posição entre 1980 e 1990. A China (em vermelho escuro) agora é mais rica. Uganda, também em vermelho, está no meio da distribuição dos países em amarelo. Alguns arranha-céus mais altos surgiram: a desigualdade aumentou em muitos países durante os anos 1980.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico

Distribuição mundial de renda em 2014
: Até 2014, muitos países mudaram de classificação. A China tem crescido rapidamente desde 1990. Entretanto, os países que eram os mais ricos em 1980 (verde escuro) continuam próximos do topo em 2014.
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Distribuição mundial de renda em 2014

Até 2014, muitos países mudaram de classificação. A China tem crescido rapidamente desde 1990. Entretanto, os países que eram os mais ricos em 1980 (verde escuro) continuam próximos do topo em 2014.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico

A desigualdade dentro dos países aumentou
: As distribuições de renda se tornaram mais desiguais em muitos dos países mais ricos: surgiram alguns arranha-céus muito altos. No caso dos países de renda média, também houve elevação na parte de trás da figura: agora, a renda dos 10% mais ricos é mais alta em relação ao restante da população.
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A desigualdade dentro dos países aumentou

As distribuições de renda se tornaram mais desiguais em muitos dos países mais ricos: surgiram alguns arranha-céus muito altos. No caso dos países de renda média, também houve elevação na parte de trás da figura: agora, a renda dos 10% mais ricos é mais alta em relação ao restante da população.

GCIP 2015. Global Consumption and Income Project. A representação da desigualdade mundial na Figura 1.2 foi feita originalmente por Bob Sutcliffe. Uma primeira versão foi publicada em: Robert, B Sutcliffe. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. Londres: Zed Books. Estão disponíveis uma versão expandida e uma representação interativa deste gráfico

A razão entre ricos e pobres que utilizamos é semelhante — mas não igual — a uma medida de desigualdade muito comum chamada de razão 90/10. A razão 90/10 é definida como a razão entre a renda de dois indivíduos que estão, respectivamente, no nonagésimo e no décimo percentis da distribuição . Nós, em contrapartida, estamos tomando a razão entre as rendas médias do décimo (“os ricos”) e do primeiro (“os pobres”) decis. O décimo decil é composto por todas as pessoas com renda maior do que a renda do indivíduo no nonagésimo percentil, de modo que a sua renda média é maior do que a renda daquele indivíduo. Por sua vez, o primeiro decil é composto por todos aqueles com renda menor que a renda da pessoa no décimo percentil, então sua renda média é menor que a renda daquela pessoa. Portanto, nossa razão entre ricos e pobres terá valor absoluto maior que a razão 90/10 para o mesmo país.

Observando-se a distribuição de renda de 2014, duas coisas ficam claras. Primeiro, em todos os países, os ricos têm muito mais que os pobres. Podemos usar a razão entre as alturas das barras à frente e na parte de trás do gráfico para medir a desigualdade dentro dos países. Por razões óbvias, vamos chamar essa medida de razão entre ricos e pobres. Mesmo em um país relativamente mais igualitário como a Noruega, a razão entre ricos e pobres é igual a 5,4; nos Estados Unidos, é 16; e em Botswana, no sul da África, é 145. A desigualdade nos países mais pobres é difícil de visualizar no gráfico mas está presente: a razão entre ricos e pobres é 22 na Nigéria e 20 na Índia.

O segundo aspecto que se destaca na Figura 1.2 é a enorme diferença de renda entre os países. A renda média na Noruega é dezenove vezes a renda média na Nigéria. E os 10% mais pobres da Noruega recebem quase o dobro da renda dos 10% mais ricos da Nigéria.

Imagine a jornada do viajante Ibn Battuta por diversas regiões do mundo no século XIV e pense em como representá-la em um diagrama como o da Figura 1.2. Battuta certamente perceberia que, aonde quer que fosse, havia diferenças entre os grupos mais ricos e mais pobres da população de cada região. No entanto, notaria também que as diferenças de renda entre os países do mundo eram relativamente menores.

Os países cujas economias “decolaram” antes de 1900 (Figura 1.1a) estão na parte representada pelos arranha-céus da Figura 1.2.
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Os países cujas economias “decolaram” antes de 1900 (Figura 1.1a) estão na parte representada pelos arranha-céus da Figura 1.2.

As grandes diferenças de renda entre países no mundo contemporâneo remetem à Figura 1.1a, a partir da qual podemos começar a compreender como esse processo se deu. Os países que decolaram economicamente antes de 1900 — Reino Unido, Japão, Itália — são ricos agora. Estes (e países similares) estão representados pelos arranha-céus da Figura 1.2. Os países que decolaram apenas recentemente, ou que ainda não o fizeram, estão nas planícies.

Exercício 1.1 Desigualdade no século XIV

Em sua opinião, como seria a representação em arranha-céus, semelhante à Figura 1.2, da época de Ibn Battuta (do início à metade do século XIV)?

Exercício 1.2 Trabalhando com dados de renda

Você pode visualizar o gráfico interativo e fazer o download dos dados que foram utilizados para criar a Figura 1.2. Escolha cinco países do seu interesse.

  1. Para cada país, calcule a razão entre ricos e pobres em 1980, 1990 e 2014.
  2. Descreva as diferenças entre os países e as mudanças que você observar ao longo do tempo.
  3. Você consegue pensar em alguma explicação para estas diferenças/mudanças?

1.2 Medindo a renda e o padrão de vida

produto interno bruto (PIB)
Medida do valor de mercado da produção de bens e serviços finais na economia em um dado período. O produto dos bens intermediários, que são insumos na produção de bens finais, é excluído para evitar dupla contagem.

A estimativa dos padrões de vida utilizada na Figura 1.1a (PIB per capita) é uma medida do total de bens e serviços produzidos em um país (chamado de produto interno bruto ou PIB), que depois é dividido por sua população total.

O PIB mede a produção econômica em determinado período, por exemplo, em um ano. A economista Diane Coyle diz que o PIB “soma tudo, de pregos a escovas de dente, tratores, calçados, cortes de cabelo, serviços de consultoria, limpeza das ruas, aulas de ioga, pratos, esparadrapos, livros e milhões de outros serviços e produtos da economia”.2

Ouça Diane Coyle falando sobre as vantagens e limitações da mensuração do PIB.

Para somar milhões de serviços e produtos, é preciso encontrar alguma medida que permita comparar o valor de uma aula de ioga com o valor de uma escova de dentes. Os economistas devem não apenas decidir o que deve ser incluído, mas também estabelecer como atribuir valor a cada uma destas coisas. Na prática, a maneira mais fácil de fazer isso é utilizar seus preços. Quando aplicamos este critério, o valor do PIB corresponde à renda total de todas as pessoas no país.

A divisão do PIB pela população resulta no PIB per capita — a renda média da população de um país. Contudo, será que esta é a forma mais correta de medir o padrão de vida ou o bem-estar das pessoas?

Renda disponível

renda disponível
Renda disponível após o pagamento de impostos e o recebimento de transferências do governo.

O PIB per capita mede renda média, o que não é o mesmo que renda disponível para uma pessoa comum.

Renda disponível é o total de salários, lucros, aluguéis, juros e transferências do governo (como seguro-desemprego ou pensões por invalidez) ou de terceiros (doações, por exemplo) recebidos durante determinado período, como um ano, menos quaisquer transferências que o indivíduo tenha feito para outros (incluindo impostos pagos ao governo). Acredita-se que a renda disponível seja uma boa medida do padrão de vida, porque é a quantidade máxima de alimentos, moradia, vestuário e outros bens e serviços que a pessoa consegue comprar sem ter de tomar empréstimos — isto é, sem se endividar ou vender bens.

Nossa renda disponível é uma boa medida do nosso bem-estar?

Nossa renda tem grande influência sobre nosso bem-estar porque nos permite comprar os bens e serviços de que precisamos ou gostamos; porém é insuficiente, uma vez que muitos aspectos do nosso bem-estar não estão relacionados ao nosso poder de compra (Robinson, 2013).3

Por exemplo, a renda disponível não leva em consideração:

  • A qualidade do nosso ambiente social e físico, que inclui coisas como amizades e ar puro.
  • A quantidade de tempo livre que temos para relaxar ou passar tempo com amigos e familiares.
  • Bens e serviços que não compramos se forem fornecidos pelo governo, como saúde e educação.
  • Bens e serviços que são produzidos dentro do ambiente familiar, como refeições ou cuidados infantis (predominantemente fornecidos por mulheres).

Renda disponível média e bem-estar médio

Será que a renda disponível média é uma boa medida do bem-estar de, por exemplo, uma nação ou um grupo étnico? Considere um grupo no qual cada pessoa tenha inicialmente uma renda disponível de US$ 5 mil por mês e imagine que, sem nenhuma mudança nos preços, a renda de cada indivíduo do grupo aumentou. Diríamos então que o bem-estar médio ou comum aumentou.

Vamos agora a outra comparação. Em um segundo grupo, a renda disponível mensal de metade das pessoas é de US$ 10 mil. A outra metade tem apenas US$ 500 para gastar todo mês. A renda média do segundo grupo (US$ 5.250) é maior que a do primeiro (que, antes do aumento, era de US$ 5 mil). Podemos então dizer que o bem-estar do segundo grupo é maior que o do primeiro grupo, no qual todos têm US$ 5 mil por mês? É improvável que, no segundo grupo, a renda adicional faça muita diferença para os ricos; porém, a metade mais pobre provavelmente vê sua pobreza como uma grave privação.

A renda absoluta é importante para o bem-estar, mas pesquisas apontam que as pessoas se importam com sua posição relativa na distribuição de renda, relatando menor bem-estar quando acreditam que ganham menos do que os outros membros de seu grupo.

Dado que a distribuição de renda afeta o bem-estar, e que o mesmo valor de renda média pode resultar de distribuições de renda muito diferentes entre ricos e pobres de um mesmo grupo, a renda média pode não ser uma boa medida do bem-estar de um grupo de pessoas em comparação a outro.

Atribuindo valor a bens e serviços prestados pelo governo

O PIB inclui os bens e os serviços prestados pelo governo, tais como educação, defesa nacional e aplicação da lei. Tudo isso contribui para o bem-estar, mas não é incluído no cálculo da renda disponível. Neste sentido, o PIB per capita é uma medida melhor do padrão de vida do que a renda disponível.

Todavia, atribuir valor aos serviços prestados pelo governo é ainda mais difícil do que a serviços como cortes de cabelo e aulas de ioga. No caso de bens e serviços comprados e vendidos no mercado, o preço pode ser tomado como uma aproximação do seu valor (se você acha que um corte de cabelo vale menos do que seu preço, você simplesmente deixa o cabelo crescer). No entanto, os bens e os serviços prestados pelo governo geralmente não são vendidos, e a única forma de atribuir-lhes valor é considerando seu custo de produção.

Dadas as diferenças entre o significado de bem-estar e o que o PIB per capita mede, devemos ser cautelosos quanto ao uso literal do PIB per capita como medida de bem-estar de uma população.4

Contudo, quando mudanças ao longo do tempo ou diferenças entre países nesse indicador são tão grandes quanto as apresentadas na Figura 1.1a (e nas Figuras 1.1b, 1.8 e 1.9, mais adiante neste capítulo), o PIB per capita indubitavelmente está nos dizendo algo sobre as diferenças na disponibilidade de bens e serviços.

No Einstein ao final desta seção, examinamos mais detalhadamente como o PIB é calculado para que possamos compará-lo ao longo do tempo e entre países (muitos capítulos têm Einsteins, seções cuja leitura não é obrigatória, mas que ensinam como calcular e entender muitas das estatísticas que utilizamos ao longo deste livro). Com estes métodos, podemos empregar o PIB per capita para comunicar claramente ideias como “as pessoas no Japão são, em média, muito mais ricas hoje do que há duzentos anos, e muito mais ricas do que a população da Índia atualmente”.

Exercício 1.3 O que deveríamos medir?

Em 18 de março de 1968, enquanto disputava a presidência dos Estados Unidos, o senador Robert Kennedy fez um famoso discurso questionando “o mero acúmulo de bens materiais” na sociedade americana e por que a poluição do ar, as propagandas de cigarro e as penitenciárias, entre outras coisas, eram contabilizadas pelas medidas de padrão de vida dos Estados Unidos, mas saúde, educação ou patriotismo não eram. Kennedy argumentava que “tudo é medido, exceto aquilo que faz a vida valer a pena.”

Leia o discurso na íntegra ou ouça um áudio da gravação.

  1. No texto completo, que bens Kennedy lista como incluídos na mensuração do PIB?
  2. Você acredita que esses bens devem ser incluídos no cálculo do PIB? Por quê?
  3. No texto completo, que bens Kennedy diz estarem ausentes na mensuração?
  4. Você acha que esses bens deveriam ser incluídos? Por quê?

Questão 1.1 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

O que o PIB per capita do Reino Unido mede?

  • A produção total da economia de Londres.
  • A renda disponível média de um residente do Reino Unido.
  • A produção total dos residentes do Reino Unido dividida pelo número de residentes.
  • A produção total da economia britânica dividida pela população do país.
  • “Per capita” significa “por pessoa”, e não “na capital”!
  • Renda disponível é a renda de uma pessoa (por exemplo, salários, rendimentos de poupança, benefícios sociais recebidos) menos quaisquer transferências (impostos, por exemplo). O PIB inclui os bens e serviços prestados pelo governo, como educação, defesa nacional e aplicação da lei, que não estão incluídos na renda disponível.
  • Esta é a definição do PNB (Produto Nacional Bruto) per capita. O PNB inclui a produção feita no exterior atribuível aos residentes do Reino Unido e exclui a produção no Reino Unido atribuível a residentes no exterior.
  • Esta é a definição correta do PIB per capita, como visto na Seção 1.2.

Einstein Comparando a renda em diferentes momentos e entre diferentes países

A Organização das Nações Unidas (ONU) coleta e publica estimativas do PIB feitas por agências estatísticas de todo o mundo. Estas estimativas, associadas àquelas feitas por historiadores econômicos, nos permitem criar gráficos como o da Figura 1.1a, que compara o padrão de vida dos países em diferentes períodos, e verificar se a distância entre países ricos e pobres diminuiu ou aumentou ao longo do tempo. Antes de fazer uma declaração como “as pessoas na Itália são, em média, mais ricas do que as pessoas na China, mas a diferença entre os dois países está diminuindo”, estatísticos e economistas devem tentar resolver três problemas:

  • Precisamos separar o elemento que queremos medir — mudanças ou diferenças na quantidade de bens e serviços — dos aspectos irrelevantes para a comparação, especialmente das mudanças ou diferenças nos preços de bens e serviços.
  • Ao comparar a produção de um país em dois momentos diferentes, é necessário considerar as diferenças de preços entre esses dois momentos.
  • Ao comparar a produção de dois países em determinado momento, é necessário considerar as diferenças de preços entre os países.

Veja como as duas últimas declarações são semelhantes. Mensurar as mudanças na produção de um país em momentos diferentes e comparar as diferenças na produção entre dois países num mesmo momento apresentam o mesmo desafio: encontrar um conjunto de preços que, empregado no cálculo, nos permita identificar mudanças ou diferenças na produção sem cometer o erro de supor que, se o preço de algo aumentou em um país mas não em outro, então aumentou a produção no primeiro país.

Ponto de partida: PIB nominal

Ao estimar o valor de mercado da produção econômica como um todo para dado período, os estatísticos utilizam os preços pelos quais os produtos e os serviços são vendidos no mercado. Ao multiplicar as quantidades de diferentes bens e serviços por seus preços, estes passam a ser descritos em termos monetários ou nominais. Quando todos os valores estão em uma mesma unidade em termos nominais (ou monetários), é possível somá-los. O PIB nominal é dado por:

Em geral, podemos escrever:

onde pi é o preço do bem i, qi é a quantidade do bem i e ∑ indica a soma das multiplicações de preço por quantidade para todos os bens e serviços incluídos no cálculo.

Considerando as mudanças de preço ao longo do tempo: PIB real

Para avaliar se a economia está crescendo ou não, precisamos de uma medida da quantidade de bens e serviços produzidos, o que é dado pelo chamado PIB real. Se compararmos a economia em dois anos diferentes, e se todas as quantidades permanecerem iguais mas os preços aumentarem, digamos, 2% de um ano para o outro, então o PIB nominal aumentará 2%, mas o PIB real não mudará. A economia não cresceu.

Como não podemos somar o número de computadores, sapatos, refeições em restaurantes, voos, empilhadeiras e assim por diante, não é possível medir o PIB real diretamente. Em vez disso, para obter uma estimativa do PIB real, temos de começar com o PIB nominal, definido anteriormente.

Do lado direito da equação do PIB nominal, estão os preços finais de venda de cada item multiplicados por suas respectivas quantidades.

Para acompanhar o que está acontecendo com o PIB real, começamos definindo um ano-base: por exemplo, 2010. Em seguida, definimos o PIB real a preços de 2010 como igual ao PIB nominal daquele ano. No ano seguinte, o PIB nominal de 2011 é calculado como anteriormente, utilizando-se os preços vigentes em 2011. Em seguida, podemos ver o que aconteceu com o PIB real ao multiplicar as quantidades referentes a 2011 pelos preços de 2010. Se, sob os preços do ano-base, o PIB subiu, então podemos concluir que o PIB real aumentou.

preços constantes
Preços corrigidos por aumentos nos preços (inflação) ou decréscimos nos preços (deflação) para que uma unidade monetária represente o mesmo poder de compra em diferentes períodos de tempo. Veja também: paridade de poder de compra.

Se, por este método, o PIB de 2011 é igual ao de 2010 quando ambos são calculados usando os preços de 2010, podemos inferir que, mesmo que tenham ocorrido mudanças na composição do produto (menos viagens de avião e maior venda de computadores, por exemplo), a quantidade total de bens e serviços produzidos não mudou. A conclusão seria de que o PIB real, também chamado de PIB a preços constantes, permanece inalterado. A taxa de crescimento da economia em termos reais seria, portanto, zero.

Considerando as diferenças de preços entre países: preços internacionais e poder de compra

Para comparar países, precisamos escolher um conjunto de preços e aplicá-lo a ambos os países.

Para começar, imaginemos uma economia simples que produz apenas um produto. Como exemplo, escolhemos um cappuccino porque podemos facilmente descobrir seu preço em diferentes partes do mundo. Além disso, escolhemos comparar duas economias muito diferentes em termos de desenvolvimento: a Suécia e a Indonésia.

No momento em que este capítulo foi escrito, utilizando as taxas de câmbio correntes para converter os preços em dólares americanos, um cappuccino custava US$ 3,90 em Estocolmo e US$ 2,63 em Jacarta.

Se você quiser a estatística atualizada, o site Numbeo mostra comparações internacionais de custo de vida.

Contudo, simplesmente expressar os dois cappuccinos na mesma moeda não é suficiente, porque a taxa de câmbio internacional utilizada no cálculo não é uma medida muito boa de quanto uma rúpia vale em Jacarta e de quanto uma coroa vale em Estocolmo.

paridade de poder de compra (PPC)
Correção estatística que permite comparar a quantidade de bens que pode ser adquirida com diferentes moedas em diferentes países. Veja também: preços constantes.

É por isso que, ao comparar o padrão de vida de diversos países, utilizamos estimativas do PIB per capita mensuradas por um conjunto comum de preços denominados preços de paridade de poder de compra (PPC). Como o nome sugere, a ideia é atingir paridade (igualdade) no poder de compra real.

Normalmente, os preços são mais altos nos países mais ricos, como em nosso exemplo. Uma razão para tal é que, neles, os salários são mais altos, o que se reflete em preços mais altos. Os preços dos cappuccinos, das refeições em restaurantes, dos cortes de cabelo, da maioria dos alimentos, do transporte, dos aluguéis e de outros bens e serviços são mais altos na Suécia do que na Indonésia, de modo que, sob um conjunto comum de preços, a diferença de PIB per capita entre Suécia e Indonésia medida em PPC é menor do que se a comparação fosse feita com base nas taxas de câmbio correntes.

Utilizando-se apenas as taxas de câmbio, o PIB per capita na Indonésia é de apenas 6% do nível da Suécia; em PPC, utilizando-se preços internacionais, o PIB per capita da Indonésia é 21% do da Suécia.

Esta comparação mostra que o poder de compra da rupia indonésia em relação à coroa sueca é mais de três vezes maior do que indicaria a taxa de câmbio corrente entre as duas moedas.

Examinaremos a mensuração do PIB (e outras medidas da economia como um todo) mais detalhadamente no Capítulo 13.

1.3 O taco de hóquei da história: crescimento da renda

A hockey stick is mostly straight, with a sharp upwards curve towards the end.

Caso você nunca tenha visto um taco de hóquei (ou assistido a um jogo de hóquei), este formato é a razão pela qual chamamos essas figuras de“curvas de taco de hóquei”.

Uma maneira diferente de analisar os dados da Figura 1.1a é utilizando uma escala na qual o PIB per capita dobra conforme subimos o eixo vertical: de US$ 250 per capita por ano para US$ 500, depois para US$ 1 mil, e assim por diante. Esta escala, vista na Figura 1.1b, é chamada de escala de proporção e é utilizada para comparar taxas de crescimento.

Quando empregamos a expressão taxa de crescimento da renda (ou de qualquer outra quantidade mensurável, como a população), nos referimos à seguinte taxa de variação:

Se o nível do PIB per capita em 2000 é de US$ 31.946 e em 2001 é de US$ 32.660, como na Grã-Bretanha, segundo dados da Figura 1.1a, então podemos calcular a taxa de crescimento:

Escolher entre comparar níveis ou taxas de crescimento depende da pergunta que buscamos responder. A Figura 1.1a facilita a comparação dos níveis do PIB per capita entre vários países e em diferentes momentos da história. Por sua vez, a Figura 1.1b utiliza uma escala de proporção, o que permite comparar as taxas de crescimento dos países em diferentes períodos. Ao empregar uma escala de proporção, uma série que cresce a uma taxa constante será representada por uma linha reta. Tal ocorre porque a porcentagem adicionada conforme percorremos o eixo X (ou a taxa de crescimento proporcional) é constante. Uma reta mais inclinada em um gráfico com escala de proporção significa uma taxa de crescimento mais rápida.

Para visualizar mais claramente, pense em uma taxa de crescimento de 100%: isso significa que o nível da variável dobra. Na Figura 1.1b, com a escala de proporção, podemos ver que, se o PIB per capita dobrou de US$ 500 para US$ 1 mil em cem anos, a inclinação permaneceria a mesma ao passar de US$ 2 mil para US$ 4 mil ou de US$ 16 mil para US$ 32 mil ao longo de cem anos. Se o nível quadruplicasse ao invés de dobrar (isto é, fosse de US$ 500 para US$ 2 mil em cem anos), a reta seria duas vezes mais inclinada, como reflexo de uma taxa de crescimento duas vezes maior.

O taco de hóquei da história
: Houve mudanças culturais e avanços científicos em muitas partes do mundo ao longo de todo o período apresentado na figura, mas os padrões de vida somente começaram a melhorar de forma sustentada a partir do século XVIII. A figura lembra com um taco de hóquei, forma que desperta nossa curiosidade.
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O taco de hóquei da história

Figura 1.1b O taco de hóquei da história: padrão de vida em cinco países (1000–2018) usando a escala de proporção.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

Há poucas observações antes de 1800
: Para o período anterior a 1800, temos menos informações sobre o PIB per capita; por isso, há poucas observações nessa parte da figura.
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Há poucas observações antes de 1800

Para o período anterior a 1800, temos menos informações sobre o PIB per capita; por isso, há poucas observações nessa parte da figura.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

Ligando os pontos, traça-se uma linha
: Para cada país, os pontos representando observações na etapa anterior foram unidos por linhas retas. Antes de 1800, não é possível observar como os padrões de vida variaram ano a ano.
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Ligando os pontos, traça-se uma linha

Para cada país, os pontos representando observações na etapa anterior foram unidos por linhas retas. Antes de 1800, não é possível observar como os padrões de vida variaram ano a ano.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

Grã-Bretanha
: O ponto de inflexão da curva de taco de hóquei é menos acentuado na Grã-Bretanha, onde o crescimento começou por volta de 1650.
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Grã-Bretanha

O ponto de inflexão da curva de taco de hóquei é menos acentuado na Grã-Bretanha, onde o crescimento começou por volta de 1650.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

Japão
: No Japão, o ponto de inflexão é mais acentuado, ocorrendo por volta de 1870.
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Japão

No Japão, o ponto de inflexão é mais acentuado, ocorrendo por volta de 1870.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

China e Índia
: Na China e na Índia, o ponto de inflexão se deu na segunda metade do século XX. Na verdade, o PIB per capita da Índia caiu durante o domínio colonial britânico. Naquele período, podemos ver que o mesmo ocorreu na China, quando nações europeias dominavam a política e a economia do país.
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China e Índia

Na China e na Índia, o ponto de inflexão se deu na segunda metade do século XX. Na verdade, o PIB per capita da Índia caiu durante o domínio colonial britânico. Naquele período, podemos ver que o mesmo ocorreu na China, quando nações europeias dominavam a política e a economia do país.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

Compare as taxas de crescimento na China e no Japão
: A escala de proporção permite observar que as taxas de crescimento recentes no Japão e na China foram maiores do que em qualquer outro lugar.
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Compare as taxas de crescimento na China e no Japão

A escala de proporção permite observar que as taxas de crescimento recentes no Japão e na China foram maiores do que em qualquer outro lugar.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

Em algumas economias, o padrão de vida das pessoas só começou a melhorar substancialmente após a independência do domínio colonial ou o fim da interferência de nações europeias:

  • Índia: De acordo com Angus Deaton, economista especializado na análise da pobreza, quando trezentos anos de domínio britânico na Índia terminaram, em 1947, “é possível que a privação durante a infância dos indianos… tenha sido tão severa como a de qualquer outro grande grupo na história”. Nos últimos anos do domínio britânico, uma criança nascida na Índia tinha expectativa de vida de 27 anos. Cinquenta anos depois, a expectativa de vida na Índia havia aumentado para 65 anos.
  • China: Já havia sido mais rica do que a Grã-Bretanha, mas, em meados do século XX, o PIB per capita na China era 1/15 do PIB per capita da Grã-Bretanha.
  • América Latina: A América Latina não obteve uma mudança de padrão de vida semelhante à inflexão vivenciada pelos países das Figuras 1.1a e 1.1b, nem durante o domínio colonial espanhol, nem após a independência da maioria das suas nações no início do século XIX.

Aprendemos duas coisas com as Figuras 1.1a e 1.1b:

  • Durante muito tempo, o padrão de vida não cresceu de forma sustentada.
  • Quando o crescimento sustentado ocorreu, teve início em diferentes momentos do tempo para distintos países, o que gerou grandes diferenças nos padrões de vida em todo o mundo.

Um divertido vídeo do estatístico Hans Rosling mostra como alguns países ficaram mais ricos e com melhores indicadores de saúde muito antes de outros.

Entender esse processo tem sido uma das questões mais importantes para os economistas, começando com um dos criadores da disciplina, Adam Smith, que deu ao seu livro mais importante o título de Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações.5

Grandes economistas Adam Smith

Adam Smith Adam Smith (1723–1790) é considerado por muitos o pai da economia moderna. Criado na Escócia por sua mãe viúva, estudou filosofia na Universidade de Glasgow e depois em Oxford, onde escreveu: “a maioria dos … professores … desistiu de toda e qualquer pretensão de ensinar.”

Ele viajou por toda a Europa, visitando Toulouse, na França, cidade na qual afirmou ter “muito pouco a fazer” e, assim, começou a “escrever um livro para passar o tempo.” A obra se tornaria o mais famoso livro de economia.

Em Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, publicado em 1776, Smith indaga: como é possível que a sociedade coordene as atividades independentes de um grande número de atores econômicos — produtores, transportadores, vendedores, consumidores — frequentemente desconhecidos uns dos outros e amplamente distribuídos pelo mundo? Sua radical resposta era que a coordenação entre todos esses atores poderia surgir espontaneamente, sem que qualquer pessoa ou instituição tentasse conscientemente criá-la ou mantê-la. Esta ideia desafiou as noções anteriores de organização política e econômica, segundo as quais os governantes imporiam ordem a seus súditos.

Ainda mais radical foi a ideia de que tal coordenação poderia ocorrer como resultado de indivíduos buscando seus próprios interesses: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse”, escreveu ele.

Em outra parte de A Riqueza das Nações, Smith apresentou uma das metáforas mais poderosas e duradouras da história da economia: a mão invisível. O homem de negócios, escreve ele, “visa apenas a seu próprio ganho e, tanto neste como em muitos outros casos, é levado como que por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções. Aliás, nem sempre é pior para a sociedade que este objetivo não faça parte das intenções do indivíduo. Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo.”

Entre os insights de Smith está a ideia de que uma fonte significativa de prosperidade é a divisão do trabalho (ou especialização), e que esta é, por sua vez, limitada pela “extensão do mercado”. Smith ilustrou esta ideia em uma famosa passagem sobre uma fábrica de alfinetes, observando que dez homens, cada um especializado em uma ou duas de dezoito operações distintas, conseguiam produzir cerca de 50 mil alfinetes por dia. Contudo, se “tivessem trabalhado independentemente um do outro… certamente cada um deles não teria conseguido fabricar vinte alfinetes por dia, e talvez nem mesmo um.”

No entanto, um número tão grande de alfinetes somente poderia ser consumido se estes fossem vendidos longe de seu ponto de produção. Assim, a especialização do trabalho foi fomentada pela construção de canais navegáveis e pela expansão do comércio exterior. A prosperidade resultante, por sua vez, expandia a “extensão do mercado”, o que gerava um ciclo virtuoso de expansão econômica.

Smith não acreditava que as pessoas eram totalmente guiadas por interesses próprios. Dezessete anos antes de publicar A Riqueza das Nações, ele publicou um livro sobre comportamento ético chamado Teoria dos Sentimentos Morais.6

Além disso, Smith entendia que o sistema de mercado tinha algumas falhas, especialmente se os vendedores se unissem para evitar a concorrência. “As pessoas da mesma profissão raramente se reúnem”, ele escreveu, “mesmo que seja para momentos alegres e divertidos, mas as conversações terminam em uma conspiração contra o público, ou em algum incitamento para aumentar os preços”.

Smith atacou especificamente os monopólios protegidos pelos governos, como a Companhia Britânica das Índias Orientais, que não apenas controlava o comércio entre a Índia e a Grã-Bretanha, mas também administrava grande parte dessa então colônia britânica. Ele concordava com seus contemporâneos que o governo devia proteger a nação de inimigos externos e garantir a justiça por intermédio da polícia e do sistema judicial. Ele também defendia o investimento do governo na educação e em obras públicas tais como pontes, estradas e canais.

Smith é frequentemente associado à ideia de que a prosperidade surge da busca de interesses próprios sob condições de livre mercado. Entretanto, seu pensamento sobre essas questões era muito mais complexo do que geralmente se reconhece.

Exercício 1.4 As vantagens das escalas de proporção

A Figura 1.1a utilizou uma escala convencional para o eixo vertical e a Figura 1.1b utilizou uma escala de proporção.

  1. Para a Grã-Bretanha, identifique um período no qual a taxa de crescimento estava aumentando, e outro no qual era aproximadamente constante. Qual figura você usou e por quê?
  2. Identifique um período em que o PIB per capita estava diminuindo (taxa de crescimento negativa) mais rápido do que na Índia. Qual figura você usou e por quê?

Questão 1.2 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

O PIB per capita da Grécia era de US$ 22.494 em 2012, e US$ 21.966, em 2013. Com base nestes números, a taxa de crescimento do PIB entre 2012 e 2013 foi:

  • −2,40%.
  • 2,35%.
  • −2,35%.
  • −0,24%.
  • O PIB per capita diminuiu em US$ 528. Para encontrar a taxa de crescimento, divida esse valor por US$ 22.494, o PIB per capita de 2012 (e não por US$ 21.966, o PIB per capita de 2013).
  • O PIB per capita da Grécia diminuiu entre 2012 e 2013, o que resultou em uma taxa de crescimento negativa.
  • A variação no PIB per capita foi de US$ 21.966 − US$ 22.494 = − US$ 528. A taxa de crescimento do PIB per capita é dada por esta variação como porcentagem do valor de 2012: − US$ 528/US$ 22.494 = −2,35%.
  • A queda de US$ 528 no PIB per capita representa 2,35% de US$ 22.494, e não 0,235%.

Questão 1.3 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

Suponha que o PIB per capita de um país tenha dobrado a cada cem anos. Pede-se que você desenhe gráficos de escala linear e de proporção que tracem o PIB no eixo vertical e o ano no eixo horizontal. Quais serão as formas das curvas?

Gráfico com escala linear Gráfico com escala de proporção
  • Uma curva com inclinação positiva e crescente (denominada convexa) Uma linha reta com inclinação positiva
  • Uma linha reta com inclinação positiva Uma linha reta horizontal
  • Uma linha reta com inclinação positiva Uma curva com inclinação positiva e decrescente (denominada côncava)
  • Uma curva convexa com inclinação positiva Uma curva convexa com inclinação positiva

Obs.: Gráficos de escala linear são gráficos “normais”, nos quais a diferença de altura entre 1 e 2 e a diferença entre 2 e 3 seriam as mesmas no eixo vertical.

  • Uma linha reta com inclinação positiva em um gráfico com escala de proporção significa que a taxa de crescimento do PIB per capita é constante. Uma curva convexa com inclinação positiva em um gráfico com escala linear quer dizer que o PIB per capita aumenta em quantidade cada vez maior (em termos absolutos) ao longo do tempo, o que é consistente com uma taxa de crescimento constante e positiva.
  • Uma linha reta com inclinação positiva em um gráfico com escala linear significa que o PIB per capita aumenta na mesma quantidade ano após ano. Uma linha reta horizontal em um gráfico com escala de proporção significa que o PIB per capita é constante ao longo dos anos.
  • Uma linha reta com inclinação positiva em um gráfico com escala linear significa que o PIB per capita aumenta na mesma quantidade ano após ano. Uma curva côncava positivamente inclinada em um gráfico com escala de proporção significa que a taxa de crescimento diminui a cada ano. Aqui, a taxa de crescimento é constante.
  • Uma curva convexa com inclinação positiva em um gráfico com escala de proporção significa que a taxa de crescimento aumenta a cada ano. Aqui, a taxa de crescimento é constante.

1.4 A revolução tecnológica permanente

A série de ficção científica Star Trek se passa em 2264, quando os seres humanos viajam pela galáxia a uma velocidade maior que a da luz na companhia de amigáveis alienígenas, com o auxílio de computadores inteligentes e replicadores que criam alimentos e medicamentos conforme a necessidade. Quer vejamos as histórias como bobas ou inspiradoras, se for otimista, a maioria de nós pode ao menos considerar que o progresso tecnológico transformará o futuro em termos morais, sociais e materiais.

Nenhum futuro à la Star Trek aguardava os netos de um camponês que vivia em 1250. Os próximos quinhentos anos passariam sem qualquer mudança mensurável no padrão de vida de um trabalhador comum. Enquanto a ficção científica surgia no século XVII (em 1627, foi publicada Nova Atlântida, de Francis Bacon, uma das primeiras obras do gênero), não foi até o século XVIII que cada nova geração pôde esperar por uma vida completamente diferente, marcada por novas tecnologias.

Avanços científicos e tecnológicos extraordinários ocorreram mais ou menos ao mesmo tempo que o ponto de inflexão do taco de hóquei da Grã-Bretanha começou a ascender, em meados do século XVIII.

Revolução Industrial
Onda de avanços tecnológicos e mudanças organizacionais iniciada na Grã-Bretanha, no século XVIII, que transformou uma economia agrária e artesanal em uma economia industrial e comercial.

Importantes novas tecnologias foram introduzidas nas indústrias têxtil, energética e de transportes. O caráter cumulativo desse processo o levou a ser chamado de Revolução Industrial. Até 1800, a maioria dos processos de produção ainda se baseava em técnicas artesanais tradicionais, que empregavam habilidades transmitidas de geração a geração. A nova era trouxe novas ideias, novas descobertas, novos métodos e novas máquinas, tornando obsoletas as ideias e ferramentas antigas. Os novos métodos, por sua vez, seriam rapidamente substituídos por métodos ainda mais modernos.

tecnologia
Descrição de um processo que emprega um conjunto de materiais e outros insumos, incluindo trabalho humano e máquinas, para criar um produto.

No seu sentido cotidiano, a palavra “tecnologia” se refere a máquinas, equipamentos e dispositivos desenvolvidos ao aplicar o conhecimento científico. Em economia, tecnologia é definida como um processo que emprega um conjunto de materiais e outros fatores de produção — o que inclui trabalho humano e máquinas — para criar um produto. Por exemplo, uma tecnologia para fazer um bolo pode ser descrita pela receita que especifica a combinação de fatores de produção (ingredientes, como farinha, e atividades laborais, como bater a massa) necessários para criar o produto (o bolo). Outra tecnologia para fazer bolos utiliza máquinas, ingredientes e mão de obra (operadores de máquinas) em grande escala.

progresso tecnológico
Mudança tecnológica que reduz a quantidade de recursos (mão de obra, máquinas, terra, energia, tempo) necessários para produzir determinada quantidade de produto.

Até a Revolução Industrial, a tecnologia da economia, assim como as habilidades necessárias para seguir receitas, era atualizada lentamente e passada de geração a geração. À medida que o progresso tecnológico revolucionou a produção, o tempo necessário para produzir um par de sapatos caiu pela metade em apenas algumas décadas. O mesmo ocorreu com os processos de fiação, tecelagem e fabricação industrial de bolos. Esta diminuição marcou o início de uma revolução tecnológica permanente, uma vez que o tempo necessário para produzir algo foi se reduzindo de uma geração a outra.

Mudança tecnológica na iluminação

Para ter uma ideia do ritmo sem precedentes de mudança tecnológica, considere a forma pela qual produzimos luz. Durante a maior parte da história da humanidade, o progresso em relação à iluminação foi lento. Normalmente, nossos ancestrais mais antigos não tinham nada além do brilho de uma fogueira à noite. Se existisse, a receita para produzir luz diria algo assim: recolher muita lenha, conseguir um pedaço de madeira em chamas de algum lugar onde outra fogueira é mantida acesa e, então, acender e manter o fogo aceso.

O primeiro grande avanço tecnológico na área de iluminação surgiu há 40 mil anos, com o uso de lamparinas a óleo animal ou vegetal. Medimos o progresso tecnológico em iluminação com base em quantas unidades de luminosidade, denominadas lúmens, podem ser geradas em uma hora de trabalho. Um lúmen é, aproximadamente, a quantidade de luminosidade em 1 metro quadrado de luz da lua. Um lúmen-hora (lm-h) representa esta quantidade de luminosidade durante uma hora. Por exemplo, podemos gerar luz que dure cerca de 17 lm-h com uma hora de trabalho dedicado a acender uma fogueira; no entanto, lampiões a óleo animal produzem 20 lm-h para a mesma quantidade de trabalho. Nos tempos da Babilônia (1750 aC), a invenção de um lampião aprimorado, à base de óleo de gergelim, permitiu que uma hora de trabalho produzisse 24 lm-h. O progresso tecnológico foi lento: essa modesta melhoria levou 7 mil anos.

Três mil anos depois, no início do século XIX, as formas mais eficientes de iluminação (que utilizavam velas de sebo) forneciam cerca de nove vezes mais luz por hora trabalhada do que os lampiões de gordura animal. Desde então, a iluminação tornou-se cada vez mais eficiente, com o desenvolvimento de lâmpadas a gás (utilizadas para iluminar cidades), a querosene, incandescentes, fluorescentes e de outras formas de iluminação. Introduzidas em 1992, as lâmpadas fluorescentes compactas são cerca de 45 mil vezes mais eficientes, em termos do tempo de trabalho, do que as lâmpadas de duzentos anos atrás. Hoje, a produtividade do trabalho necessário para produzir luz é meio milhão de vezes maior que a de nossos ancestrais reunidos em torno de fogueiras.

Ao utilizar a escala de proporção apresentada na Figura 1.1b, a Figura 1.3 mostra esse notável aumento, à la taco de hóquei, na eficiência da iluminação.

Lúmens-hora produzidos por hora de trabalho (de 100 mil anos atrás até o presente).
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Figura 1.3 Produtividade do trabalho na produção de luz.

William Nordhaus. 1998. “Do Real Output and Real Wage Measures Capture Reality? The History of Lighting Suggests Not”. Cowles Foundation for Research in Economics Paper 1078.

Mudanças tecnológicas transformadoras ainda estão ocorrendo. Hans Rosling afirma que deveríamos “agradecer à industrialização” pela criação da máquina de lavar roupas, aparelho que transformou o bem-estar de milhões de mulheres.

O processo de inovação não terminou com a Revolução Industrial, como mostra o caso da produtividade do trabalho na geração de iluminação. A inovação continuou com a aplicação de novas tecnologias em muitos setores, tais como as máquinas a vapor e a eletricidade, os transportes (canais, ferrovias, automóveis) e, mais recentemente, a revolução no processamento e na comunicação de informações. Estas inovações tecnológicas amplamente aplicáveis impulsionam a evolução do padrão de vida porque alteram o funcionamento de grande parte da economia.

Ao reduzirem a quantidade de tempo de trabalho necessário para produzir o que necessitamos, as mudanças tecnológicas permitiram uma elevação significativa do padrão de vida. O historiador econômico David Landes escreveu que a Revolução Industrial fora “uma sucessão inter-relacionada de mudanças tecnológicas”, que transformou as sociedades nas quais essas mudanças ocorreram.7

Um mundo conectado

Em julho de 2012, foi lançado o hit coreano “Gangnam Style”. No final daquele ano, a música havia se tornado a mais vendida em 33 países, incluindo Austrália, Rússia, Canadá, França, Espanha e Reino Unido. Com 2 bilhões de visualizações até meados de 2014, “Gangnam Style” também se tornou o vídeo mais assistido no YouTube. A revolução tecnológica permanente produziu um mundo conectado.

Todos fazemos parte desse mundo. Os materiais que compõem essa introdução à economia foram escritos por equipes de economistas, designers, programadores e editores, trabalhando juntos (muitas vezes simultaneamente), cada um em seu computador, em países como Reino Unido, Índia, Estados Unidos, Rússia, Colômbia, África do Sul, Chile, Turquia, França e muitos outros. Se você estiver online, parte da transmissão de informações está ocorrendo a uma velocidade muito próxima à velocidade da luz. Enquanto a maioria das commodities negociadas em todo o mundo ainda é transportada na velocidade de um cargueiro transatlântico, cerca de 33 km/h, as transações financeiras internacionais são implementadas em menos tempo do que você levou para ler essa frase.

A velocidade à qual a informação se propaga torna mais evidente a novidade da revolução tecnológica permanente. Ao comparar a data exata de um evento histórico com a data da primeira vez que foi noticiado em diários, periódicos ou jornais de outros locais, podemos determinar a velocidade a que as notícias viajavam. Por exemplo, quando Abraham Lincoln foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1860, a notícia foi divulgada via telégrafo de Washington ao Forte Kearny, que ficava no extremo oeste da linha telegráfica. De lá, a notícia foi levada por um revezamento de cavaleiros, chamado de Pony Express, que atravessaram 1.260 milhas (2.030 km) até o Forte Churchill, em Nevada. Finalmente, de lá, a notícia foi transmitida para a Califórnia via telégrafo. O processo levou sete dias e dezessete horas. Durante a rota do Pony Express, as notícias viajavam a 7 milhas (11 km) por hora. Uma carta pesando meia onça (14 gramas) custava US$ 5 para ser transportada por essa rota, preço equivalente a cinco dias de trabalho na época.

Com base em cálculos semelhantes, sabemos que as notícias viajavam a cerca de 1 milha (1,6 km) por hora da Roma antiga ao Egito e, 1.500 anos mais tarde, o trajeto entre Veneza e outras cidades ao redor do Mediterrâneo era ainda mais lento. No entanto, o ritmo começou a aumentar alguns séculos depois, como mostra a Figura 1.4. Em 1857, foram necessários “apenas” 46 dias para que a notícia de um motim de tropas indianas contra o domínio britânico chegasse a Londres. Os leitores do Times londrino souberam do assassinato de Lincoln somente treze dias após o ocorrido. Um ano depois, um cabo transatlântico reduziu a minutos o tempo para transmitir notícias entre Nova York e Londres.

Velocidade de transmissão de informações (1000–1865).
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Figura 1.4 Velocidade de transmissão de informações (1000–1865).

Tabelas 15.2 e 15.3 de Gregory Clark. 2007. A Farewell to Alms: A Brief Economic History of the World. Princeton, NJ: Princeton University Press.

1.5 A economia e o meio ambiente

Os seres humanos sempre dependeram do meio ambiente para obter os recursos de que precisam para viver e para produzir seu sustento: o ambiente físico e a biosfera, que é a coleção de todas as formas de vida na Terra, fornecem elementos essenciais para a vida, como ar, água e comida. O meio ambiente também fornece as matérias-primas que utilizamos na produção de outros bens — como madeira, metais e petróleo.

A Figura 1.5 mostra uma forma de pensar sobre a economia: esta é parte de um sistema social maior que, por sua vez, é parte da biosfera. Ao produzirem seu sustento, as pessoas interagem umas com as outras e também com a natureza.

A economia é parte da sociedade, e esta é parte da biosfera.
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Figura 1.5 A economia é parte da sociedade, e esta é parte da biosfera.

Durante a maior parte de sua história, os seres humanos acreditaram que os recursos naturais estavam disponíveis gratuita e infinitamente (salvos os custos de extraí-los). Porém, à medida que a produção aumentou substancialmente (ver Figuras 1.1a e 1.1b), o consumo de recursos naturais e a degradação do meio ambiente também dispararam. Os elementos do sistema ecológico, como o ar, a água, o solo e o clima, foram alterados pelos seres humanos mais radicalmente do que jamais tinham sido antes.

O efeito mais marcante é a mudança climática. As Figuras 1.6a e 1.6b apresentam evidências de que nosso uso de combustíveis fósseis — carvão, petróleo e gás natural — afetou profundamente o meio ambiente. Depois de muitos séculos de relativa estabilidade, o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) durante o século XX resultou em maiores quantidades de CO2 na atmosfera terrestre (Figura 1.6a), assim como provocou aumentos perceptíveis da temperatura média no hemisfério norte (Figura 1.6b). A Figura 1.6a também mostra que as emissões de CO2 geradas pelo uso de combustíveis fósseis aumentaram dramaticamente desde 1800.

Exercício 1.5 Que diferença alguns graus a mais ou a menos podem fazer?

Entre 1300 e 1850, houve vários períodos excepcionalmente frios, como você pode ver na Figura 1.6b. Pesquise sobre a chamada “pequena era do gelo” na Europa e responda as questões a seguir.

  1. Descreva os efeitos desses períodos excepcionalmente frios nas economias desses países.
  2. Em cada país ou região, alguns grupos de pessoas foram duramente atingidos pela mudança climática, enquanto outros foram menos afetados. Dê alguns exemplos.
  3. Quão “extremos” foram esses períodos frios em comparação aos aumentos de temperatura desde meados do século XX e àqueles projetados para o futuro?

A Figura 1.6b mostra que a temperatura média da Terra oscila de década a década. Muitos fatores causam estas variações, inclusive eventos vulcânicos como a erupção do Monte Tambora na Indonésia, em 1815. O Monte Tambora expeliu tanta cinza que a temperatura da Terra diminuiu devido ao efeito refrigerador dessas finas partículas na atmosfera, e 1816 ficou conhecido como o “ano sem verão”.

Dióxido de carbono na atmosfera (1010–2020) e emissões globais de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis (1750–2018).
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Figura 1.6a Dióxido de carbono na atmosfera (1010–2020) e emissões globais de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis (1750–2018).

Anos 1010–1975: David M. Etheridge, L. Paul Steele, Roger J. Francey e Ray L. Langenfelds. 2012. “Historical Record from the Law Dome DE08, DE08-2, and DSS Ice Cores”. Departamento de Pesquisa Atmosférica, CSIRO, Aspendale, Victoria, Austrália. Anos 1976–2020: Dr. Pieter Tans, NOAA/GML e Dr. Ralph Keeling, Scripps Institution of Oceanography. Dados do Centro de Análises de Informações sobre Dióxido de Carbono (CDIAC).

As temperaturas médias vêm subindo desde 1900, em resposta a níveis cada vez mais altos de concentração de gases de efeito estufa. Tal ocorre, principalmente, devido ao aumento das emissões de CO2 associadas à queima de combustíveis fósseis.

Figura 1.6b Temperaturas do Hemisfério Norte no longo prazo (1000–2019).
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Figura 1.6b Figura 1.6b Temperaturas do Hemisfério Norte no longo prazo (1000–2019).

Michael E. Mann, Zhihua Zhang, Malcolm K. Hughes, Raymond S. Bradley, Sonya K. Miller, Scott Rutherford e Fenbiao Ni. 2008. “Proxy-based reconstructions of hemispheric and global surface temperature variations over the past two millennia”. Proceedings of the National Academy of Sciences 105 (36): pp. 13252–13257. Morice, C. P., J. J. Kennedy, N. A. Rayner, e P. D. Jones (2012). ‘Quantifying uncertainties in global and regional temperature change using an ensemble of observational estimates: The HadCRUT4 dataset’. Journal of Geophysical Research. Atualizado em 15 de setembro de 2016.

A realidade das mudanças climáticas e o papel da ação humana na sua origem não são mais motivo de controvérsia na comunidade científica. As prováveis consequências do aquecimento global são de grande alcance: derretimento das calotas polares; aumento do nível do mar (com possível submersão de grandes áreas costeiras); potenciais mudanças nos padrões climáticos e pluviais, o que pode destruir áreas de cultivo de alimentos. As consequências de longo prazo, físicas e econômicas, destas mudanças e políticas públicas apropriadas para abordá-las serão discutidas mais detalhadamente no Capítulo 20 (Economia do meio ambiente).

A maior autoridade em pesquisa e coleta de dados sobre mudanças climáticas é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

As mudanças climáticas são um fenômeno global. Entretanto, muitos dos impactos ambientais da queima de combustíveis fósseis são locais, uma vez que, por exemplo, os habitantes das cidades sofrem com doenças respiratórias ou outros problemas de saúde causados pelos altos níveis de emissões prejudiciais advindas de usinas de energia, automóveis e outras fontes. As comunidades rurais também são afetadas pelo desmatamento (outra causa da mudança climática) e pela redução da oferta de água potável e de populações de peixes.

Estes efeitos — de mudança climática global a exaustão de recursos locais — são resultado tanto da expansão da economia (ilustrada pelo crescimento da produção total) como da forma como esta se organiza (por exemplo, ao definir o que deve ser valorizado e conservado). A relação entre a economia e o meio ambiente, mostrada na Figura 1.5, é de mão dupla: utilizamos recursos naturais na produção, o que, por sua vez, pode afetar o meio ambiente em que vivemos e sua capacidade de sustentar a produção futura.

No entanto, a revolução tecnológica permanente — responsável por gerar nossa dependência de combustíveis fósseis — também pode ser parte da solução dos problemas ambientais atuais.

Veja a Figura 1.3, que mostra a produtividade do trabalho na produção de iluminação. O grande aumento da produção ao longo da história, e especialmente desde meados do século XIX, ocorreu principalmente porque a quantidade de luz produzida por unidade de calor (por exemplo, com uma fogueira, vela ou lâmpada) aumentou dramaticamente.

No setor de iluminação, a revolução tecnológica permanente nos proporcionou mais luz com menos calor, o que preservou os recursos naturais — de madeira a combustíveis fósseis — usados para gerá-lo. Os avanços tecnológicos atuais podem permitir maior dependência de energia eólica, solar e de outras fontes renováveis de energia.

Questão 1.4 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

Qual(is) das seguintes variáveis seguiu (seguiram) a chamada “trajetória de taco de hóquei” — isto é, pouco ou nenhum crescimento durante a maior parte da história seguido de salto súbito e marcante para um crescimento positivo?

  • PIB per capita.
  • Produtividade do trabalho.
  • Desigualdade.
  • CO2 atmosférico.
  • O PIB per capita tem um crescimento lento ou nulo nas economias até a industrialização, quando passa a crescer a taxas cada vez maiores.
  • A produtividade do trabalho tem crescimento lento ou nulo nas economias até a industrialização, quando começa a crescer a taxas cada vez maiores.
  • Ao longo do tempo, não há tendência unidirecional da desigualdade. Enquanto as primeiras tribos de caçadores-coletores foram, sem dúvida, quase perfeitamente igualitárias, as economias da Idade Moderna variam de altamente igualitárias a altamente desiguais.
  • Veja a Figura 1.6a. O crescimento do CO2 atmosférico começou a partir de meados do século XIX, como consequência da utilização de combustíveis fósseis conforme as tecnologias introduzidas na Revolução Industrial se difundiram.

1.6 Definindo o que é capitalismo: Propriedade privada, mercados e empresas

Ao observar os dados das Figuras 1.1a, 1.1b, 1.3, 1.4 e 1.6, notamos que a inflexão para cima, que faz com que as curvas se assemelhem a um taco de hóquei, se repete para:

  • o produto interno bruto per capita
  • a produtividade do trabalho (luz por hora de trabalho)
  • a conectividade das várias partes do mundo (velocidade com que a notícia se propaga)
  • o impacto da economia no meio ambiente global (emissões de carbono e mudanças climáticas)

Como podemos explicar a transformação de um mundo no qual as condições de vida mudavam muito pouco, a menos que houvesse uma epidemia ou guerra, para um no qual cada geração, visível e previsivelmente, tem condições melhores do que a anterior?

Parte importante da nossa resposta será o que chamamos de revolução capitalista: o surgimento, no século XVIII, e a eventual disseminação global de uma maneira de organizar a economia que hoje chamamos de capitalismo. Há um século, mal se ouvia falar do termo “capitalismo” — que definiremos em breve —, mas seu uso disparou desde então, como você pode ver na Figura 1.7. A figura mostra a fração de todos os artigos do New York Times (exceto a seção de esportes) que incluem o termo “capitalismo”.

Uso da palavra “capitalismo” nos artigos do New York Times (1851–2015).
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Figura 1.7 Uso da palavra “capitalismo” nos artigos do New York Times (1851–2015).

Cálculos de Simon DeDeo, Santa Fé Institute, do New York Times. 2016. “NYT article archive”.

capitalismo
Sistema econômico no qual a principal forma de organização econômica é a firma, na qual os proprietários de bens privados de capital contratam força de trabalho para produzir bens e serviços que, por sua vez, serão vendidos nos mercados com o objetivo de gerar lucro. Assim, as principais instituições em um sistema econômico capitalista são a propriedade privada, os mercados e as empresas.
sistema econômico
Forma de organizar a economia que se distingue por suas instituições essenciais. Sistemas econômicos do passado e do presente incluem: planejamento econômico central (caso da União Soviética no século XX), feudalismo (ocorrido na maior parte da Europa durante os primeiros séculos da Idade Média), economia escravagista (sistema de plantation, mantido no sul dos Estados Unidos, no Brasil e nos países caribenhos até a abolição da escravidão no século XIX) e capitalismo (vigente na maior parte das economias atuais).
instituição
Leis e costumes sociais que regulam a maneira como as pessoas interagem entre si e com a biosfera. Uma expressão comum refere-se às instituições como “regras do jogo”.

O capitalismo é um sistema econômico caracterizado por uma combinação particular de instituições. Um sistema econômico é uma maneira de organizar a produção e a distribuição de bens e serviços em toda a economia. E, quando falamos de instituições, nos referimos aos diferentes conjuntos de leis e costumes sociais que regulam as diferentes formas de produção e de distribuição em famílias, empresas privadas e órgãos governamentais.

Propriedade privada

Significa que você pode:

  • desfrutar de suas posses da maneira que você quiser
  • proibir que outras pessoas as usem se assim desejar
  • vendê-las ou doá-las para outras pessoas …
  • … que então se tornam proprietários do que receberam

Em algumas economias do passado, as principais instituições econômicas eram a propriedade privada (que define pessoas como sendo proprietárias de coisas), os mercados (onde as mercadorias podiam ser compradas e vendidas) e as famílias. Geralmente, os bens eram produzidos por famílias, que trabalhavam juntas, e não por empresas com proprietários e funcionários.

Em outras sociedades, o governo tem sido a instituição que controla a produção e decide como e para quem as mercadorias devem ser distribuídas, formando o que chamamos de sistema econômico com planejamento centralizado. Este vigorou, por exemplo, na União Soviética, na Alemanha Oriental e em muitos outros países da Europa Oriental antes do fim do regime do Partido Comunista, no início dos anos 1990.

Embora governos e famílias sejam parte essencial do funcionamento de qualquer economia, a maioria das economias é capitalista hoje em dia. Como a maioria de nós vive em economias deste tipo, é fácil ignorar a importância das instituições fundamentais para o bom funcionamento do capitalismo, tão familiares a nós que quase acabamos por não notá-las. Antes de entender como a propriedade privada, os mercados e as empresas se combinam no sistema econômico capitalista, precisamos defini-los.

A extensão da propriedade privada varia ao longo da história humana. Em sociedades como as de nossos ancestrais mais antigos, caçadores e coletores, quase nada era propriedade dos indivíduos, exceto enfeites e roupas pessoais. Em outras, a lavoura e os animais eram propriedade privada, mas a terra, não. O direito de usá-la era concedido às famílias pelo consenso entre os membros de um grupo ou por um chefe, sem dar à família o direito de vender a terra.

Em outros sistemas econômicos, alguns seres humanos — pessoas escravizadas — eram considerados propriedade privada.

bens de capital
Fatores de produção duráveis e não relacionados ao trabalho humano que são comprados pelas firmas para serem utilizados na produção (como máquinas, plantas e instalações, etc.). Esta definição não inclui alguns insumos essenciais; por exemplo, água e conhecimento empregado no processo produtivo sem custo para quem o utiliza.

Em uma economia capitalista, um tipo importante de propriedade privada são os equipamentos, os edifícios e outros fatores duráveis utilizados na produção de bens e serviços: são os chamados bens de capital.

A propriedade privada pode pertencer a um indivíduo, a uma família, a uma empresa ou a outra entidade que não seja o governo. Algumas coisas que valorizamos não são propriedade privada: por exemplo, o ar que respiramos e a maior parte do conhecimento que utilizamos não podem ser propriedade privada de alguém ou serem comprados e vendidos.

Questão 1.5 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

Qual(is) dos itens a seguir pode(m) ser considerado(s) propriedade privada?

  • Os computadores que pertencem à sua faculdade.
  • A terra de um fazendeiro na Rússia soviética.
  • As ações de uma empresa.
  • As habilidades de um trabalhadores.
  • Embora possam ser utilizados por muitos alunos, os computadores que pertencem à faculdade são propriedade privada da instituição, que requer pagamento (mensalidade) para acessá-los e pode excluir pessoas que não sejam alunos de seu uso.
  • Na Rússia do período soviético, sua terra podia ser transferida para outros pelo Estado e, portanto, não era propriedade privada.
  • As ações de uma empresa representam um direito sobre seus lucros futuros. Este direito pode ser vendido, doado ou exercido conforme o desejo de seu proprietário e representa renda que os não acionistas não têm direito a receber.
  • Enquanto a propriedade intelectual é propriedade privada (da sua empresa, da sua universidade ou até mesmo sua), suas habilidades em geral não estão disponíveis para se tornar propriedade de terceiros.

Mercados

Mercados são:

  • uma maneira de conectar pessoas que poderão se beneficiar mutuamente
  • ao trocarem bens e serviços
  • por meio de um processo de compra e venda

Os mercados são um meio de transferir bens ou serviços de uma pessoa para outra. Há outras formas, como roubo, uma troca de presentes ou um decreto governamental. Os mercados diferem destas outras formas em três aspectos:

Há reciprocidade: ao contrário do que ocorre ao dar presentes ou roubar, a transferência de um bem ou serviço de uma pessoa para outra é diretamente retribuída por uma transferência na outra direção (seja por dinheiro; por outro bem ou serviço, como nas permutas; ou por promessa de transferência futura no caso de comprar a crédito). As transações são voluntárias: ambas as transferências — a do comprador e a do vendedor — são voluntárias porque as coisas trocadas são propriedades privadas. Portanto, as transações devem ser benéficas do ponto de vista de ambas as partes. Nesse sentido, os mercados também diferem de roubos e de transferências de bens e serviços em uma economia de planejamento central.

Na maioria dos mercados, há concorrência. Um vendedor que cobra um preço alto, por exemplo, perceberá que os consumidores preferem comprar de seus concorrentes.

Exercício 1.6 A casa do homem mais pobre

“O homem mais pobre poderá, de sua casa, desafiar todas as forças da Coroa. Pode ser uma casa frágil, cujo telhado treme; o vento pode atravessá-la; as tempestades e a chuva podem invadi-la — mas o Rei da Inglaterra não poderá nela entrar; todas as suas forças não ousam passar pela porta do domicílio arruinado.” — William Pitt, 1o Conde de Chatham, em discurso no Parlamento Britânico (1763).

  1. O que o trecho nos mostra sobre o significado de propriedade privada?
  2. O mesmo se aplica à casa das pessoas no seu país?

Exercício 1.7 Mercados e redes sociais

Pense em uma rede social que você use, como o Facebook, e agora veja nossa definição de um mercado.

Quais são as semelhanças e as diferenças entre o site dessa rede social e um mercado?

Questão 1.6 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

Qual(is) dos itens a seguir é(são) exemplo(s) de um mercado?

  • Racionamento de comida durante uma guerra.
  • Sites de leilões, como o eBay.
  • Cambistas vendendo ingressos na entrada de eventos.
  • Venda ilegal de armas.
  • Transferências de bens e serviços resultantes de ordens governamentais em economia de planejamento central não caracterizam um mercado.
  • Um mercado baseado em leilões continua sendo um mercado, ainda que o mecanismo de fixação de preços funcione por meio de licitações (“lances”), e não por preços negociados ou listados.
  • Um mercado de revendas ainda é um mercado, embora os produtos em questão já tenham sido vendidos anteriormente.
  • Um mercado ilegal funciona como um mercado do ponto de vista econômico.

Firma

Uma firma é uma forma de organizar a produção com as seguintes características:

  • Um ou mais indivíduos possuem um conjunto de bens de capital que são usados na produção.
  • Estes indivíduos pagam salários aos seus empregados.
  • E também orientam os funcionários (por intermédio dos gerentes, que também são seus empregados) na produção de bens e serviços.
  • Os bens e os serviços são de propriedade dos donos da firma.
  • Os proprietários vendem os bens e os serviços nos mercados com a intenção de obter lucro.

A propriedade privada e os mercados por si sós, no entanto, não definem o capitalismo: em muitos lugares, estes já eram instituições importantes muito antes que o sistema capitalista se instalasse. O mais recente dos três componentes da economia capitalista é a firma.

Os tipos de firmas que compõem uma economia capitalista incluem restaurantes, bancos, grandes fazendas que contratam pessoas para trabalhar na produção agrícola, estabelecimentos industriais, supermercados e provedores de internet. Outras organizações produtivas que não são firmas e desempenham um papel bem menor em uma economia capitalista incluem empresas familiares (nas quais a maioria ou todas as pessoas trabalhando são parentes entre si), organizações sem fins lucrativos, cooperativas pertencentes a trabalhadores de um setor e entidades de propriedade do governo (como ferrovias e empresas de energia ou água). Estas não são firmas, seja porque não obtêm lucros ou porque seus proprietários não são pessoas físicas que de fato têm a propriedade da empresa e empregam outros para trabalharem lá. Note que uma firma paga salários aos seus empregados, mas se contratar estudantes para estágios não remunerados, continua sendo uma firma.

mercado de trabalho
Neste mercado, os empregadores oferecem salários a indivíduos que poderão concordar em trabalhar sob sua direção. Os economistas dizem que os empregadores representam o lado da demanda do mercado de trabalho e os trabalhadores, o lado da oferta. Veja também: força de trabalho.

As firmas existiram, desempenhando um papel menor, em várias economias muito antes de se tornarem organizações predominantes na produção de bens e serviços como na economia capitalista. O papel determinante das firmas criou um boom em outro tipo de mercado que desempenhara um papel limitado nos sistemas econômicos anteriores: o mercado de trabalho. Proprietários de empresas (ou seus gerentes) oferecem empregos com salários ou remunerações altas o suficiente para atrair pessoas que estão procurando emprego.

lado da demanda
Lado de um mercado no qual os participantes estão oferecendo dinheiro em troca de algum outro bem ou serviço (por exemplo, aqueles que desejam comprar pão). Veja também: lado da oferta.
lado da oferta
Lado de um mercado no qual os participantes estão oferecendo algo em troca de dinheiro (por exemplo, aqueles que vendem pão). Veja também: lado da demanda.

Na linguagem econômica, os proprietários fazem parte do lado da demanda do mercado de trabalho (pois “demandam” funcionários), enquanto os trabalhadores fazem parte do lado da oferta, oferecendo-se para trabalhar sob a direção dos proprietários e gerentes que os contratam.

Uma característica marcante das firmas, que as distingue de famílias e governos, é a rapidez com que podem nascer, se expandir, se contrair e morrer. Uma empresa bem-sucedida pode crescer a partir de apenas alguns funcionários e, em apenas alguns anos, tornar-se uma empresa global com centenas de milhares de clientes, empregando milhares de pessoas. As empresas podem fazer isso porque são capazes de contratar mais funcionários no mercado de trabalho e de atrair fundos para financiar a compra dos bens de capital necessários para expandir a produção.

As firmas também podem morrer em poucos anos, uma vez que uma firma que não gera lucros não terá dinheiro suficiente (e não poderá tomar dinheiro emprestado) para continuar empregando e produzindo. A empresa se contrai, e parte dos seus funcionários perde o emprego.

Vamos comparar esta dinâmica à de uma fazenda familiar bem-sucedida. A família terá melhor padrão de vida que seus vizinhos mas, a menos que se torne uma empresa e empregue outras pessoas, sua expansão será limitada. Por outro lado, se a família não for muito boa em agricultura, terá um padrão de vida inferior ao dos seus vizinhos. O chefe da família não pode despedir seus filhos da mesma forma que uma empresa pode se livrar de funcionários improdutivos. Desde que a família consiga se alimentar, não há mecanismo que irá fechá-la automaticamente, como ocorre no caso de falência de uma empresa.

Órgãos governamentais, caso sejam bem-sucedidos, também tendem a ser mais limitados em sua capacidade de se expandir e, geralmente, contam com proteções mesmo em caso de desempenho ruim.

Definindo o capitalismo com precisão

Na linguagem cotidiana, a palavra “capitalismo” é usada de diferentes maneiras, em parte porque as pessoas têm sentimentos fortes em relação ao termo. Na linguagem da ciência econômica, utilizamos a definição de maneira precisa para facilitar nossa comunicação: definimos o capitalismo como um sistema econômico que combina três instituições que, por sua vez, exigem cada uma sua definição.

O termo “capitalismo” não se refere a um sistema econômico específico, mas a uma classe de sistemas que compartilham dessas características. A maneira como as instituições do capitalismo — propriedade privada, mercados e empresas — se associam (entre si e com famílias, governos e outras instituições) difere muito de país a país. Assim como gelo e vapor são diferentes formas de água (definida quimicamente como um composto que combina dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio), China e Estados Unidos são ambas economias capitalistas. Entretanto, elas diferem em relação a quanto o governo influencia os assuntos econômicos e em muitas outras formas. Como este exemplo demonstra, de modo geral, as definições nas ciências sociais não são tão precisas quanto nas ciências naturais.

Algumas pessoas podem dizer que “o gelo não é realmente água” e podem alegar que a definição não é o “verdadeiro significado” dessa palavra. Porém, debates sobre “o verdadeiro significado” de algo (especialmente sobre ideias abstratas e complexas, como capitalismo ou democracia) esquecem o motivo pelo qual definições são importantes. Pense na definição de água ou de capitalismo, não como a captura de algum significado verdadeiro, mas como um dispositivo que é útil porque facilita a comunicação.

As definições nas ciências sociais geralmente não são tão precisas quanto nas ciências naturais. Ao contrário da água, não conseguimos identificar um sistema econômico capitalista apenas mensurando características físicas observáveis.

Exercício 1.8 Capitalismo

Veja a Figura 1.7 novamente.

  1. Você consegue sugerir uma explicação do porquê o uso do termo capitalismo aumentou precisamente em dados momentos?
  2. Por que você acha que seu emprego permanece em alta desde o final dos anos 1980?

1.7 O capitalismo como sistema econômico

A Figura 1.8 mostra que as três partes que definem um sistema econômico capitalista são conceitos estritamente vinculados entre si. O círculo da esquerda descreve uma economia de famílias isoladas, proprietárias de bens de capital e dos bens que produzem, mas que trocam pouco ou nada com agentes externos.

Uma economia capitalista agrega empresas a uma economia de mercado baseada em empresas familiares e propriedade privada.
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Figura 1.8 Capitalismo: Propriedade privada, mercados e empresas.

Em um sistema capitalista, a produção acontece nas empresas. Os mercados e a propriedade privada são partes essenciais do funcionamento das empresas por duas razões:

  1. Os fatores de produção e os produtos são propriedade privada: os edifícios, os equipamentos, as patentes e outros insumos da empresa utilizados na produção, assim como os produtos resultantes, pertencem aos proprietários.
  2. As empresas usam mercados para vender produtos: os lucros dos proprietários dependem dos mercados, nos quais os clientes podem voluntariamente comprar os produtos por um preço que exceda os custos de produção.8

Historicamente, economias como a do círculo à esquerda existiram, mas foram muito menos importantes do que um sistema no qual os mercados e a propriedade privada estão ambos presentes (círculo do centro). A propriedade privada é condição essencial para o funcionamento dos mercados: os compradores não vão querer pagar pelos bens se não tiverem, de fato, o direito de possuí-los. No círculo do centro, a maior parte da produção é feita por indivíduos (como sapateiros ou ferreiros) ou por famílias (em uma fazenda, por exemplo). Antes de 1600, muitas das economias do mundo eram assim.

propriedade privada
Algo é uma propriedade privada se a pessoa que a possui tem o direito de excluir outros de utilizá-la, de se beneficiar do seu uso e de compartilhá-la com outras pessoas.

Um aspecto distinto da definição de capitalismo como sistema econômico é que, sob esse sistema, a maior parte da produção ocorre por meio de bens de capital de propriedade privada realizada por trabalhadores assalariados. Isso contrasta com a propriedade governamental dos bens de capital em uma economia de planejamento central, na qual firmas privadas e mercados são relativamente pouco importantes. Outro contraste se dá com um sistema econômico definido como economia escravagista, no qual a maior parte do trabalho é feita por pessoas que não trabalham em troca de salários, mas, assim como a terra em que trabalham, são propriedade de outra pessoa. Indo além dessas definições, sistemas econômicos capitalistas também incluem o trabalho feito por funcionários do governo e aquele não remunerado prestado nos lares e, historicamente, pelas pessoas escravizadas.

O capitalismo é um sistema econômico que combina centralização e descentralização. Ele concentra poder nas mãos de proprietários e gerentes de empresas, de modo que sejam capazes de garantir a cooperação de um grande número de funcionários no processo de produção. Ao mesmo tempo, porém, o capitalismo limita o poder de proprietários e outros indivíduos, ao submetê-los a concorrência para comprar e vender nos mercados.

Então, quando o dono de uma empresa interage com um funcionário, ele ou ela é “o chefe”. Todavia, quando esse mesmo proprietário interage com um cliente em potencial, ele ou ela é simplesmente outra pessoa tentando fechar uma venda enquanto concorre com outras empresas. É essa combinação incomum, de concorrência entre as empresas e concentração de poder com cooperação em cada uma destas, que explica o sucesso do capitalismo como um sistema econômico.

Como o capitalismo levou à melhoria do padrão de vida?

Duas grandes mudanças acompanharam o surgimento do capitalismo, ambas as quais aumentaram a produtividade dos trabalhadores:

Tecnologia

Como vimos, a revolução tecnológica permanente coincidiu com a emergência das empresas como meios predominantes de organização da produção. Isso não significa que as empresas necessariamente causaram as mudanças tecnológicas, mas sim que empresas concorrendo entre si nos mercados tinham fortes incentivos para adotar e desenvolver novas e mais produtivas tecnologias, assim como para investir em bens de capital inacessíveis às empresas familiares de pequeno porte.

Especialização

O crescimento de empresas que empregam um grande número de trabalhadores — e a expansão de mercados, que, juntos, conectaram o mundo inteiro em processo de intercâmbio — permitiu uma especialização sem precedentes do trabalho e da produção. Na próxima seção, veremos como essa especialização pode aumentar a produtividade do trabalho e do padrão de vida.

Exercício 1.9 É ou não é uma firma?

Utilizando a definição dada anteriormente, explique se cada uma das entidades a seguir é uma firma, analisando se esta atende às características necessárias. Se você não conhece alguma das entidades, pesquise na internet.

  1. John Lewis Partnership (Reino Unido)
  2. Uma propriedade rural familiar no Vietnã
  3. Escritório (ou clínica) do médico que atende a sua família
  4. Wal-Mart (Estados Unidos)
  5. Um navio pirata do século XVIII (veja a nossa descrição do Royal Rover no Capítulo 5)
  6. Google (Estados Unidos)
  7. Manchester United S.A. (Reino Unido)
  8. Wikipédia

1.8 Os ganhos gerados pela especialização

Capitalismo e especialização

Olhe para os objetos que estão no seu local de trabalho. Você conhece a pessoa que os fez? E quanto à roupa que você está usando? Ou qualquer outra coisa que você consiga enxergar de onde está sentado?

Agora imagine que estamos em 1776, ano em que Adam Smith escreveu A Riqueza das Nações. Essas perguntas, feitas em qualquer lugar do mundo, teriam uma resposta diferente.

Naquela época, muitas famílias produziam uma grande variedade de bens para seu próprio consumo, incluindo-se produtos agrícolas, carne, roupas e até mesmo ferramentas. Nos tempos de Adam Smith, muitas das coisas que você teria visto ao seu redor teriam sido feitas por um familiar ou um vizinho. Você mesmo teria feito alguns objetos; outros teriam sido produzidos localmente ou comprados no mercado do vilarejo.

economias de escala
Ocorrem quando duplicar todos os insumos utilizados na produção gera mais que o dobro do produto. O formato da curva de custo médio de longo prazo de uma firma depende tanto dos retornos de escala na produção como do efeito de escala nos preços pagos pelos insumos. Também conhecido como: retornos crescentes de escala. Veja também: deseconomias de escala.

Durante a vida de Adam Smith, uma das mudanças que estava acontecendo — mas que se acelerou muito desde então — é a especialização na produção de bens e serviços. Como Smith explicou, nos tornamos melhores em produzir coisas quando nos concentramos em um número limitado de atividades. Isso é verdade por três razões:

  1. Learning by doing: Adquirimos habilidades quando produzimos coisas.
  2. Diferenças de habilidade: Devido à aptidão ou a fatores ambientais, como a qualidade do solo, algumas pessoas são melhores do que outras em produzir algumas coisas.
  3. Economias de escala: Muitas vezes, produzir um grande número de unidades de algum bem é mais barato do que produzir uma quantidade pequena. No Capítulo 7, estudamos isso mais detalhadamente.

Essas são as vantagens de trabalhar com um número limitado de tarefas ou produtos. Normalmente, as pessoas não produzem todos os bens e serviços que consomem, mas se especializam em produzir um ou outro tipo de bem: enquanto alguns trabalham como soldadores, outros são professores ou fazendeiros.

No entanto, as pessoas não se especializarão se não tiverem uma maneira de adquirir os outros produtos de que precisam.

Por isso, a especialização — chamada de divisão do trabalho — coloca um problema para a sociedade: como os produtos e os serviços serão distribuídos do produtor até o usuário final? No decorrer da história, isso aconteceu de várias formas diferentes: da requisição e distribuição direta feita pelo governo, como nos Estados Unidos e em muitas economias durante a Segunda Guerra Mundial, até doações e formas de compartilhamento voluntário, como fazemos em família hoje em dia, e como praticado no passado, entre membros de comunidades de caçadores e coletores com ou sem laços familiares. O capitalismo aumentou as nossas oportunidades de especialização, ao expandir a importância econômica dos mercados e das empresas.

A especialização está presente nos governos e também nas famílias, nas quais os trabalhos domésticos são frequentemente divididos de acordo com idade e gênero. Aqui, analisamos a divisão do trabalho nas firmas e nos mercados.

A divisão do trabalho nas firmas

Adam Smith começa A Riqueza das Nações com a seguinte frase:

O maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho, e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é em toda parte dirigido ou executado, parecem ter sido resultados da divisão do trabalho.

Ele então passa a descrever uma fábrica de alfinetes em que a especialização de trabalhadores em determinadas tarefas permitiu um nível de produtividade — dado pelo número de alfinetes produzidos por dia — que lhe parecia extraordinário. As empresas podem empregar milhares ou até mesmo centenas de milhares de indivíduos, com a maioria trabalhando em tarefas especializadas sob a direção dos proprietários ou gerentes da empresa.

Essa descrição de uma empresa enfatiza sua natureza hierárquica, de cima para baixo. Todavia, você também pode pensar na empresa como um meio pelo qual um grande número de pessoas, cada uma com habilidades e capacidades distintas, contribui para um resultado comum, o produto. Assim, a empresa gera um tipo de cooperação entre produtores especializados que aumenta a produtividade.

No Capítulo 6, voltaremos à questão de quem faz o quê em uma empresa e por quê.

Mercados, especialização e vantagem comparativa

No Capítulo 3 de A Riqueza das Nações, intitulado “A Divisão do Trabalho Limitada pela Extensão do Mercado”, Smith explica:

Quando o mercado é muito reduzido, ninguém pode sentir-se estimulado a dedicar-se inteiramente a uma ocupação, porque não poderá permutar toda a parcela excedente de sua produção que ultrapassa seu consumo pessoal pela parcela de produção do trabalho alheio, da qual tem necessidade.

Quando você ouve a palavra “mercado”, que palavra te vem à mente? Provavelmente, você pensou em “concorrência”. De fato, você estaria certo ao associar as duas palavras.

Mas você também poderia pensar na palavra “cooperação”. Por quê? Porque os mercados permitem que trabalhemos juntos na produção e na distribuição de bens e serviços, mesmo que cada um de nós persiga seus objetivos particulares. Embora longe de ser perfeita, essa maneira é, em muitos casos, melhor do que as outras alternativas.

Os mercados geram um resultado extraordinário: cooperação não intencional em escala global. As pessoas que produziram o telefone que está na sua mesa não conheciam ou se preocupavam com você. Elas, e não você, o produziram porque são melhores em produzir telefones do que você. Por sua vez, você tem esse telefone porque pagou para tê-lo, o que permite que seus produtores comprem os produtos de que precisam, e estes também foram produzidos por desconhecidos.

Um exemplo simples ilustra como os mercados permitem a especialização quando as pessoas diferem em sua capacidade de produzir mercadorias diferentes. O exemplo mostra algo surpreendente: todos os produtores podem beneficiar-se da especialização e da troca de mercadorias, até mesmo quando isso implica que um produtor se especialize em um produto cujo custo seria menor se outro produtor o produzisse.

Imagine um mundo com apenas duas pessoas, Greta e Carlos, que precisam de dois produtos, maçãs e trigo, para sobreviver. Eles têm diferentes graus de produtividade no cultivo destes produtos. Se Greta gastasse todo o seu tempo, produzindo maçãs — digamos, 2 mil horas em um ano — ela produziria 1.250 unidades. Se produzisse apenas trigo, ela obteria 50 toneladas por ano. Carlos, por sua vez, tem terras menos férteis do que Greta para produzir as duas culturas: se dedicasse todo o seu tempo (a mesma quantidade que Greta) ao cultivo de maçãs, produziria mil por ano e, se produzisse apenas trigo, ficaria com 20 toneladas. Veja um resumo na Figura 1.9a.

  Produção se 100% do tempo for utilizado na produção de apenas um produto
Greta 1.250 maçãs ou 50 toneladas de trigo
Carlos 1.000 maçãs ou 20 toneladas de trigo

Figura 1.9a Vantagem absoluta e vantagem comparativa na produção de maçãs e trigo.

Embora a terra de Carlos seja pior para produzir ambas as culturas, sua desvantagem em relação à Greta é menor na produção de maçãs do que na de trigo. Greta consegue produzir 2,5 vezes mais trigo que ele, mas apenas 25% a mais de maçãs.

Os economistas distinguem quem é melhor em produzir o quê ao utilizarem dois critérios: vantagem absoluta e vantagem comparativa.

vantagem absoluta
Uma pessoa ou um país tem vantagem absoluta na produção de um bem quando a quantidade de insumos que emprega para produzi-lo é menor do que a quantidade empregada por outro país ou outra pessoa. Veja também: vantagem comparativa.

Greta tem vantagem absoluta nos dois produtos, enquanto Carlos tem desvantagem absoluta. Ela consegue produzir mais que ele qualquer um dos dois produtos.

vantagem comparativa
Uma pessoa ou um país tem vantagem comparativa na produção de determinado bem se o custo de produzir uma unidade adicional desse bem em relação a produzir outro bem for menor do que o custo de outra pessoa ou país para produzir esses dois bens. Veja também: vantagem absoluta.

Greta tem vantagem comparativa na produção de trigo; Carlos tem vantagem comparativa na produção de maçãs. Embora ela seja melhor em ambos os casos, Carlos tem menor desvantagem na produção de maçãs do que na produção de trigo. Greta tem vantagem comparativa na produção de trigo.

Inicialmente, Carlos e Greta não conseguem negociar entre si. Por isso, ambos precisam ser autossuficientes, consumindo exatamente o que produzem, de modo que cada um produzirá os dois bens para sobreviver. Greta escolhe usar 40% de seu tempo na produção de maçãs e dedicar o restante do tempo a produzir trigo. A coluna 1 da Figura 1.9b mostra que ela produz e consome quinhentas maçãs e 30 toneladas de trigo. Vemos também o consumo de Carlos: ele gasta 30% de seu tempo para produzir maçãs e 70% para produzir trigo.

Agora, suponha que haja mercados nos quais maçãs e trigo possam ser comprados e vendidos, e que quarenta maçãs possam ser compradas pelo preço de 1 tonelada de trigo. Se Greta se especializar no cultivo de trigo, produzindo 50 toneladas de trigo e nenhuma maçã, enquanto Carlos se especializa em maçãs, a produção total das duas culturas será maior do que aquela gerada sob autossuficiência (coluna 2). Então, cada um deles poderá vender parte de sua própria produção no mercado e comprar parte do bem que o outro produziu.

Por exemplo, se Greta vender 15 toneladas de trigo (coluna 3) para comprar seiscentas maçãs, ela poderá consumir mais maçãs e mais trigo do que antes (coluna 4). A tabela mostra que comprar 15 toneladas de trigo produzidas por Greta por seiscentas maçãs também permitirão que Carlos consuma mais de ambos os produtos em comparação ao que era possível sem especialização e sem comércio.

Autossuficiência Especialização completa e comércio
Produção Comércio Consumo
1 2 3 4
Greta Maçãs 500 0 600
Trigo 30 50 = 15 + 35
Carlos Maçãs 300 1.000 = 600 + 400
Trigo 14 0 15
Total Maçãs 800 1.000 600 1.000
Trigo 44 50 15 50

Figura 1.9b Comparando autossuficiência e especialização. Sob autossuficiência, ambos consomem exatamente o que produzem. Sob especialização completa, Greta somente produz trigo, Carlos apenas cultiva maçãs, e eles negociam o excedente de sua produção, isto é, aquilo que está acima do que consomem.

Ao construir esse exemplo, assumimos que os preços de mercado são tais que uma tonelada de trigo poderia ser trocada por quarenta maçãs. Voltaremos a falar do funcionamento dos mercados nos Capítulos 7 a 12, mas o Exercício 1.10 mostra que essa premissa não era crítica. Há outros preços sob os quais as trocas beneficiariam tanto Greta quanto Carlos.

A oportunidade de negociar — isto é, a existência de um mercado de maçãs e de um mercado de trigo — beneficiou ambos os produtores. Isso foi possível porque a especialização na produção de apenas um bem aumentou a quantidade total de cada bem produzido, de oitocentas para mil maçãs e de 44 para 50 toneladas de trigo. O mais surpreendente no exemplo anterior é que Greta acabou comprando seiscentas maçãs de Carlos, ainda que ela mesma pudesse ter produzido maçãs a um custo menor (em termos de tempo de trabalho). A especialização levou a uma melhor forma de aproveitar o tempo de ambos porque, enquanto Greta tinha vantagem absoluta na produção dos dois bens, Carlos tinha vantagem comparativa na produção de maçãs.

Os mercados contribuem para aumentar a produtividade do trabalho — e, portanto, podem ajudar a explicar o taco de hóquei da história —, ao permitirem que as pessoas se especializem na produção de bens para os quais possuem vantagem comparativa, ou seja, na produção em que elas forem, em termos relativos, menos piores!

Exercício 1.10 Maçãs e trigo

Suponha que os preços de mercado fossem tais que 35 maçãs pudessem ser compradas por 1 tonelada de trigo.

  1. Se Greta vendesse 16 toneladas de trigo, ela e Carlos ainda estariam em uma situação melhor?
  2. O que aconteceria se apenas vinte maçãs pudessem ser compradas pelo preço de uma tonelada de trigo?

1.9 Capitalismo, causalidade e o taco de hóquei da história

Vimos que as instituições associadas ao capitalismo podem melhorar a vida das pessoas por meio de oportunidades de especialização e pela introdução de novas tecnologias. Também vimos que a revolução tecnológica permanente coincidiu com o surgimento do capitalismo. Mas será que podemos concluir que o capitalismo foi responsável pelo ponto de inflexão na curva do taco de hóquei?

Deveríamos sempre reagir com ceticismo quando alguém afirma que algo complexo (capitalismo) é a “causa” de algo (melhoria do padrão de vida, desenvolvimento tecnológico, um mundo interconectado ou desafios ambientais).

Na ciência, apoiamos a afirmação que X causa Y, à medida que compreendemos a relação entre causa (X) e efeito (Y), assim como realizamos experimentos para coletar evidências sobre essa relação, ao mensurarmos X e Y.

causalidade
Relação de causa e efeito estabelecendo que uma mudança em uma variável produz uma mudança em outra. Enquanto uma correlação é simplesmente uma avaliação de que duas coisas se movimentam juntas, a causalidade implica que há um mecanismo responsável pela associação entre elas e, portanto, trata-se de um conceito mais restritivo. Veja também: experimento natural, correlação.

Queremos fazer afirmações causais em economia para entender por que as coisas acontecem ou para traçar estratégias e promover mudanças que permitam melhor funcionamento da economia, isto é, queremos fazer afirmações causais do tipo de “a política X provavelmente causará a mudança Y”. Por exemplo, um economista pode afirmar que: “Se o Banco Central reduzir a taxa de juros, mais pessoas comprarão casas e carros.”

No entanto, uma economia é composta das interações entre milhões de pessoas. Não conseguimos medir nem entender todas elas e raramente é possível reunir evidências por meio da realização de experimentos (embora tenhamos, no Capítulo 4, exemplos do uso de experimentos convencionais em uma área da economia). Então, como os economistas fazem ciência? Esse exemplo mostra como aquilo que observamos no mundo pode auxiliar-nos na investigação de causas e efeitos.

Como os economistas aprendem com os fatos As instituições são importantes para o crescimento da renda?

experimento natural
Estudo empírico que explora controles estatísticos que ocorrem naturalmente no qual os pesquisadores não têm a capacidade de alocar participantes para grupos de tratamento e de controle, como no caso dos experimentos convencionais. Ao invés disso, diferenças na lei, política, clima ou outros eventos podem oferecer a oportunidade de analisar as populações como se fossem parte de um experimento. A validade de tais estudos depende da premissa de que a alocação de sujeitos para grupos de controle ou de tratamento que ocorrem naturalmente é aleatória.

Podemos observar que o capitalismo surgiu ao mesmo tempo ou um pouco antes da Revolução Industrial e da curva ascendente dos nossos tacos de hóquei. Isso seria consistente com a hipótese de que as instituições capitalistas estariam entre as causas da era de crescimento contínuo da produtividade. Todavia, o surgimento de um ambiente cultural de pensamento livre conhecido como “Iluminismo” também antecedeu ou coincidiu com a virada ascendente das curvas do taco de hóquei. Portanto, os responsáveis foram as instituições, a cultura, ambas, ou algum outro conjunto de causas? Como veremos no Capítulo 2, os economistas e os historiadores discordam quando perguntamos: “Quais foram as causas da Revolução Industrial?”

Intelectuais de todas as áreas tentam restringir o número de discordâncias utilizando fatos. No caso de questões econômicas complicadas, como “As instituições são importantes economicamente?”, os fatos podem fornecer informações suficientes para chegarmos a uma conclusão.

Um método para responder essas perguntas é o experimento natural. Nesse tipo de situação, há diferenças em algum aspecto de interesse — por exemplo, uma mudança nas instituições — que não estão associadas a diferenças em outras possíveis causas.

No final da Segunda Guerra Mundial, ocorreu a divisão da Alemanha em dois sistemas econômicos separados — planejamento centralizado, na Alemanha Oriental, e capitalismo, na Ocidental — o que nos forneceu um experimento natural. Durante esse período, o país foi dividido por uma “Cortina de Ferro” política — termo cunhado pelo então primeiro-ministro britânico Winston Churchill — separando duas populações que, até aquele momento, compartilhavam uma mesma língua, cultura e economia capitalista.9

Como não podemos mudar o passado, mesmo que fosse possível conduzir experimentos em populações inteiras, dependemos de experimentos naturais. Nesta entrevista, o biólogo Jared Diamond e o economista e cientista político James Robinson explicam esse método.

Em 1936, antes da Segunda Guerra Mundial, os padrões de vida nas regiões que se tornariam a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental eram os mesmos, cenário adequado para utilizar o método de experimento natural. Antes da guerra, as empresas na Saxônia e na Turíngia eram líderes mundiais na produção de automóveis e aeronaves, produtos químicos, equipamentos ópticos e em engenharia de precisão.

Com a introdução do planejamento centralizado na Alemanha Oriental, a propriedade privada, os mercados e as empresas praticamente desapareceram. Decisões sobre o que produzir, quanto produzir e em quais fábricas, escritórios, minas e fazendas eram tomadas, não por agentes privados, mas por funcionários do governo. Os funcionários públicos que administravam essas organizações econômicas não precisavam seguir o princípio capitalista de produzir bens e serviços que seriam vendidos a consumidores dispostos a pagar um preço acima do seu custo de fabricação.

A Alemanha Ocidental permaneceu uma economia capitalista.

Em 1958, o Partido Comunista da Alemanha Oriental previa que o bem-estar material do país excederia o nível da Alemanha Ocidental em 1961. O fracasso dessa previsão foi uma das razões pelas quais o Muro de Berlim, que separava o leste e o oeste da Alemanha, foi construído em 1961. Quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, e a Alemanha Oriental abandonou o planejamento centralizado, seu PIB per capita era menos da metade do PIB da Alemanha Ocidental capitalista. Utilizando uma escala de proporção, a Figura 1.10 mostra os diferentes caminhos tomados por estas e por outras duas economias a partir de 1950.

O PIB da Alemanha Ocidental cresceu mais rapidamente do que o PIB da Alemanha Oriental entre 1950 e 1989.
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Figura 1.10 As duas Alemanhas: Planejamento e capitalismo (1950–1989).

Conference Board, The. 2015. Total Economy Database. Angus Maddison. 2001. “The World Economy: A Millennial Perspective”. Development Centre Studies. Paris: OCDE.

Na Figura 1.10, vemos que a Alemanha Ocidental partiu, em 1950, de uma posição mais favorável do que a Alemanha Oriental. Entretanto, em 1936, antes do início da guerra, os dois lados da Alemanha tinham padrões de vida praticamente idênticos. Ambas as regiões tinham se industrializado com sucesso. A fraqueza relativa da Alemanha Oriental em 1950 não se devia a diferenças na quantidade de bens de capital ou nas habilidades disponíveis por pessoa da população, mas sim porque a divisão do país prejudicou mais a estrutura das indústrias na Alemanha Oriental do que na Alemanha Ocidental.10

Ao contrário de algumas economias capitalistas que tinham rendimentos per capita ainda menores em 1950, a economia planificada da Alemanha Oriental não chegou ao mesmo patamar dos líderes mundiais, entre os quais estava a Alemanha Ocidental. Até 1989, a economia japonesa (também atingida pela guerra) havia alcançado a Alemanha Ocidental, com sua peculiar combinação de propriedade privada, mercados, empresas e forte coordenação governamental; e a Espanha havia compensado parte da diferença em relação às nações mais ricas.

O experimento natural alemão não nos permite concluir que o capitalismo sempre promove rápido crescimento econômico ou que o planejamento centralizado é uma receita para a estagnação relativa. O que podemos inferir é, na verdade, mais limitado: durante a segunda metade do século XX, a divergência nas instituições econômicas teve consequências importantes para o sustento das pessoas na Alemanha.

1.10 Variedades de capitalismo: Instituições, governo e a economia

Nem todo país capitalista tem uma história de sucesso econômico como a Grã-Bretanha, seguida pelo Japão e por outros países que atingiram níveis de renda per capita similares, ilustrados na Figura 1.1a. A Figura 1.11 acompanha o desempenho de alguns países durante o século XX, mostrando que, por exemplo, na África, o sucesso de Botswana em alcançar um crescimento sustentado contrasta fortemente com o relativo fracasso da Nigéria. Ambos são ricos em recursos naturais (diamantes em Botswana, petróleo na Nigéria), mas as diferenças na qualidade de suas instituições — a extensão da corrupção e a má gestão dos fundos governamentais, por exemplo — podem ajudar a explicar suas trajetórias contrastantes.

O país que mais se destaca na Figura 1.11 é a Coreia do Sul. Em 1950, seu PIB per capita era igual ao da Nigéria. Em 2020, de acordo com esse mesmo indicador, o país era mais de sete vezes mais rico que o país africano.

estado desenvolvimentista
Governo que assume um papel de liderança na promoção do processo de desenvolvimento econômico através de investimentos públicos, subsídios a atividades específicas, educação e outras políticas públicas.

A “decolagem econômica” da Coreia do Sul ocorreu sob instituições e políticas nitidamente diferentes daquelas que prevaleciam na Grã-Bretanha dos séculos XVIII e XIX. A diferença mais importante é que o governo da Coreia do Sul (em associação com algumas grandes corporações) desempenhou papel de liderança no direcionamento do processo de desenvolvimento, ao promover explicitamente alguns setores, exigir que as empresas competissem em mercados estrangeiros e oferecer educação de alta qualidade para sua força de trabalho. O termo estado desenvolvimentista foi usado para descrever o papel de liderança do governo sul-coreano na decolagem econômica do país, e agora, se estende a qualquer governo que desempenhe esse tipo de papel na economia. O Japão e a China são outros exemplos de estados desenvolvimentistas.11

Entre 1928 e 2015, o PIB da Coreia do Sul cresceu muito mais que o da Argentina, Rússia (ex-União Soviética), Brasil, Botswana e Nigéria.
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Figura 1.11 Divergências no PIB per capita dos países que chegaram atrasados à revolução capitalista (1928–2018). Nota: após 1992, a série para a antiga União Soviética exclui a Federação Russa.

Jutta Bolt e Jan Luiten van Zanden. 2020. ‘Estimativas da evolução da economia economia mundial baseadas na metdologia Maddison. Atualização 2020’. Maddison Project Database, versão 2020.

A Figura 1.11 também mostra que, em 1928, quando o primeiro plano econômico quinquenal da União Soviética foi introduzido, seu PIB per capita era metade do da Argentina, e aproximadamente o dobro do Brasil e Coreia do Sul. O planejamento centralizado na União Soviética produziu crescimento estável, mas não espetacular, por quase cinquenta anos. O PIB per capita na União Soviética ultrapassou o da Coreia do Sul com larga vantagem e chegou até mesmo a ultrapassar o da Argentina entre 1960 e um pouco antes de terminar o regime do Partido Comunista em 1990.

Alguns pesquisadores questionam a validade das estimativas históricas do PIB de países não europeus, porque as economias desses países tinham estrutura muito diferente.

O contraste entre a Alemanha Oriental e a Ocidental demonstra que uma razão pela qual o planejamento centralizado foi abandonado enquanto sistema econômico foi sua incapacidade de — nos últimos 25 anos do século XX — proporcionar melhorias no padrão de vida que se assemelhassem às alcançadas por algumas economias capitalistas. Contudo, as variedades de capitalismo que substituíram o planejamento centralizado nos países que antes formavam a União Soviética também não foram tão bem-sucedidas, como evidencia a grande queda no PIB per capita da antiga União Soviética após 1990. A economista Lisa Cook, da Universidade Estadual de Michigan, investigou por que a transição para o capitalismo na Rússia, iniciada em 1990, não gerou uma nova onda de inovação. Lisa Cook estudou também as invenções produzidas por inventores afro-americanos no final do século XIX, como máscaras de gás, semáforos e lâmpadas mais modernas, e como este boom de inovação foi contido por uma onda de ataques racistas e de violência contra a população afro-americana. Suas contribuições a respeito das condições políticas e econômicas necessárias à inovação são importantes para compreender as vastas desigualdades mundiais em inovação e desenvolvimento tecnológico.

Quando o capitalismo é realmente dinâmico?

O lento desempenho de algumas economias da Figura 1.11 demonstra que a existência de instituições capitalistas não é suficiente, por si só, para criar uma economia dinâmica — isto é, uma economia que gera crescimento sustentado do padrão de vida. Dois conjuntos de condições contribuem para o dinamismo do sistema econômico capitalista: um é econômico, enquanto o outro é político e diz respeito ao governo e a seu funcionamento.

Condições econômicas

Quando o capitalismo é pouco dinâmico, as possíveis razões econômicas são:12 13

  • A propriedade privada não está protegida: a aplicação das leis e a garantia de cumprimento dos contratos são fracas ou há expropriação, por parte de grupos criminosos ou órgãos governamentais.
  • Os mercados não são competitivos: não oferecem incentivos ou punições capazes de dinamizar uma economia capitalista.
  • As empresas pertencem ou são administradas por aqueles que têm conexões com autoridades governamentais ou que “nasceram em berço de ouro”: eles não se tornaram proprietários ou administradores devido a sua capacidade de fornecer bens e serviços de alta qualidade a preços competitivos. As duas falhas anteriores facilitam a ocorrência desta última.

Fracassos que atinjam, paralelamente, as três instituições básicas do capitalismo indicam que indivíduos e grupos podem ter mais a ganhar ao empregar tempo e recursos em lobby, atividades criminosas e outras formas de influenciar a distribuição de renda a seu favor, em vez de ganhar com a criação direta de valor econômico.14

O capitalismo é o primeiro sistema econômico na história da humanidade no qual ser membro da elite depende, normalmente, de ser bem-sucedido economicamente. Como dono de uma empresa, se você fracassar, você não fará mais parte do clube. Ninguém iria te expulsar, dado que isso não é necessário: você simplesmente iria à falência. Uma característica importante da disciplina de mercado — que pode ser resumida em “produza produtos de qualidade com lucro ou fracasse” — é que esta funciona de modo automático quando de fato existe, isto é, ter um amigo no poder não garante que você permanecerá no negócio em uma economia capitalista suficientemente dinâmica. Essa disciplina se aplica às empresas e aos seus funcionários: os perdedores perdem. A concorrência de mercado fornece um mecanismo para eliminar aqueles que têm desempenho inferior.

Pense em como isso difere de outros sistemas econômicos. Um senhor feudal que administrava mal sua propriedade era apenas um senhor feudal ruim. Porém, o dono de uma empresa que não consegue produzir bens que as pessoas comprem a preços maiores que seus custos de produção irá à falência — e um proprietário falido é um ex-proprietário.

Obviamente, se já eram muito ricos ou politicamente bem-conectados, os proprietários e administradores de empresas capitalistas podem sobreviver e permanecer funcionando apesar de seus fracassos, às vezes por longos períodos ou até mesmo por gerações. Às vezes, os perdedores sobrevivem. No entanto, não há garantias: para ficar à frente da concorrência, é necessário inovar constantemente.

Condições políticas

O governo também é importante. Vimos que em algumas economias — na Coreia do Sul, por exemplo — os governos desempenharam um papel de liderança na revolução capitalista. Em praticamente todas as economias capitalistas modernas, os governos são grande parte da economia e, em alguns casos, são responsáveis por mais da metade do PIB. Até mesmo onde seu papel é mais limitado, como na Grã-Bretanha na época da sua “decolagem”, os governos ainda estabelecem, aplicam e mudam as leis e os regulamentos que influenciam o funcionamento da economia. Mercados, propriedade privada e empresas são todos regulados por leis e políticas.

Para os inovadores aceitarem os riscos de introduzir um novo produto ou processo de produção, os lucros resultantes devem ser protegidos contra roubos por um sistema legal e judicial robusto. Os governos também se pronunciam quanto a disputas de propriedade e garantem os direitos de propriedade necessários ao funcionamento dos mercados.

monopólio
Empresa que é a única vendedora de um produto sem substitutos similares. Também se refere a um mercado com apenas um vendedor. Ver também: poder de monopólio, monopólio natural.
grandes demais para fracassar
Diz-se que é uma característica dos grandes bancos, cuja importância central na economia garante que serão salvos pelo governo se estiverem em dificuldades financeiras. Portanto, o banco não arca com todos os custos de suas atividades e, assim, é provável que corra riscos maiores. Também conhecido como: too big to fail. Veja também: risco moral.

Como Adam Smith alertou, ao criar ou permitir monopólios como a Companhia das Índias Orientais, os governos também podem reduzir a concorrência. Se uma grande empresa é capaz de estabelecer um monopólio, ao excluir todos os concorrentes, ou um grupo de empresas é capaz de conspirar para manter o preço alto, os incentivos à inovação e a disciplina diante de eventuais fracassos perderão força. Nas economias modernas, acontece o mesmo quando alguns bancos ou empresas consideradas grandes demais para fracassar são resgatados pelos governos, quando, sem esse resgate, teriam falido.

Além de apoiar as instituições do sistema econômico capitalista, o governo fornece bens e serviços essenciais, como infraestrutura, educação e defesa nacional. Nos capítulos subsequentes, investigaremos por que políticas governamentais são uma boa ideia, do ponto de vista econômico, em áreas como garantia da concorrência, tributação e subsídios para a proteção do meio ambiente, distribuição de renda, criação de riqueza e manutenção dos níveis de emprego e inflação.

Em suma, o capitalismo pode ser um sistema econômico dinâmico quando combina:

  • Incentivos privados para inovações que gerem redução de custos: estes derivam da concorrência no mercado e da propriedade privada protegida.
  • Empresas lideradas por pessoas com capacidade comprovada de produzir bens a baixo custo.
  • Políticas públicas que apoiem essas condições: políticas públicas também fornecem bens e serviços essenciais que as empresas privadas não forneceriam.
  • Sociedade, ambiente biofísico e base de recursos com caráter estável: como nas figuras 1.5 e 1.12.
revolução capitalista
Rápido aperfeiçoamento da tecnologia paralelo à emergência de um novo sistema econômico.

Essas são as condições que, juntas, compõem o que chamamos de revolução capitalista; evento que, primeiro na Grã-Bretanha e depois em outras economias, transformou a maneira como as pessoas interagem entre si e com a natureza ao produzirem seu sustento.

Sistemas políticos

sistema político
Um sistema político determina como os governos serão escolhidos e, uma vez no poder, como tomarão e implementarão decisões que afetam todos ou a maioria dos membros de uma população.
democracia
Sistema político que, preferencialmente, dá igual poder político a todos os cidadãos, caracterizado por direitos individuais tais como liberdade de expressão, de associação e de imprensa. Além disso, uma democracia prevê eleições justas nas quais praticamente todos os adultos têm direito ao voto e cujo partido perdedor deixa o governo.

Uma das razões pelas quais o capitalismo tem tantas formas distintas é que, ao longo da história e até os dias de hoje, as economias capitalistas coexistiram com muitos sistemas políticos diferentes. Um sistema político, como a democracia ou a ditadura, determina como os governos serão escolhidos e, se chegarem ao poder, como tomarão decisões e implementar políticas que afetam a população.

O capitalismo surgiu muito antes da democracia na Grã-Bretanha, na Holanda e na maioria dos países que hoje desfrutam de alta renda. Até o fim do século XIX, nenhum país tinha concedido direito de votar à maioria dos adultos (a Nova Zelândia foi o primeiro). Até mesmo no passado recente, o capitalismo já coexistiu com formas antidemocráticas de governo, como no Chile, de 1973 a 1990, no Brasil, entre 1964 e 1985, e no Japão, até 1945. A China contemporânea utiliza-se de uma variante do sistema econômico capitalista, mas seu sistema de governo não é uma democracia de acordo com nossa definição. Porém, na maioria dos países atuais, o capitalismo e a democracia coexistem, influenciando um ao outro.

Assim como o capitalismo, a democracia apresenta-se de diversas formas. Em algumas destas, os eleitores elegem diretamente seu chefe de Estado; em outras, um órgão eleito, como um parlamento, elege o governante do Poder Executivo. Algumas democracias impõem rígidos limites sobre a influência que indivíduos podem exercer, nas eleições ou nas políticas públicas, ao fazerem contribuições financeiras. Em outras, ao contrário, o dinheiro privado tem grande influência sobre o poder público, por meio de contribuições para campanhas eleitorais, lobby e até mesmo contribuições ilícitas, como subornos.

Essas diferenças entre as democracias são parte da explicação de por que a importância do governo na economia capitalista varia tanto entre as nações. No Japão e na Coreia do Sul, por exemplo, os governos desempenham um papel importante para definir os caminhos que suas economias tomarão. No entanto, o montante total de impostos arrecadados por esses governos (tanto em nível local como nacional) é baixo se comparado a alguns países ricos do norte da Europa, em que é quase a metade do PIB. No Capítulo 19, veremos que a desigualdade de renda disponível (segundo uma das medidas mais utilizadas) na Suécia e na Dinamarca é apenas metade do nível de desigualdade antes do pagamento de impostos e do recebimento de transferências. No Japão e na Coreia do Sul, os impostos e as transferências governamentais também reduzem a desigualdade na renda disponível, mas em grau muito menor.

Questão 1.7 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

Veja a Figura 1.10 novamente, que mostra um gráfico do PIB per capita da Alemanha Ocidental e da Oriental, do Japão e da Espanha, entre 1950 e 1990. Qual(is) das seguintes afirmações está(ão) correta(s)?

  • Ter um ponto de partida muito menor em 1950 foi a principal razão do fraco desempenho da Alemanha Oriental em comparação à Alemanha Ocidental.
  • O fato de que Japão e Alemanha Ocidental tinham o maior PIB per capita em 1990 significa que esses países encontraram o sistema econômico perfeito.
  • A Espanha conseguiu crescer a uma taxa de crescimento superior à da Alemanha, entre 1950 e 1990.
  • A diferença no desempenho da Alemanha Oriental e da Ocidental prova que o capitalismo sempre promove um rápido crescimento econômico, enquanto o planejamento centralizado é uma receita para a estagnação.
  • O Japão teve um ponto de partida ainda mais baixo do que a Alemanha Oriental e, ainda assim, conseguiu alcançar a Alemanha Ocidental até 1990.
  • Sistemas econômicos distintos podem ser bem-sucedidos. A economia japonesa tinha sua própria combinação de propriedade privada, mercados, empresas e coordenação governamental, um sistema diferente do vigente na Alemanha Ocidental.
  • A taxa de crescimento do PIB per capita de uma economia pode ser inferida a partir da inclinação de sua curva quando plotada em um gráfico com escala de proporção, como feito no gráfico. O fato de a inclinação da curva da Espanha ser maior que da Alemanha Ocidental ou da Oriental entre 1950 e 1990 indica que a primeira cresceu em um ritmo mais acelerado.
  • Em economia, não se pode utilizar apenas uma evidência para “provar” uma teoria. O que podemos inferir aqui é que, durante a segunda metade do século XX, a divergência entre instituições econômicas foi determinante para os níveis de subsistência do povo alemão.

Questão 1.8 Selecione a(s) resposta(s) correta(s)

Veja novamente a Figura 1.11. Qual(is) dessas conclusões é(são) indicada(s) pelo gráfico?

  • Até seu fim em 1990, o governo do Partido Comunista na antiga União Soviética foi um completo fracasso.
  • Os desempenhos contrastantes de Botswana e Nigéria ilustram que valiosos recursos naturais não garantem, por si sós, maior crescimento econômico, mas que instituições de maior qualidade (governo, mercados e empresas) também podem ser necessárias.
  • O impressionante desempenho da economia sul-coreana sugere que outros países deveriam copiar seu sistema econômico.
  • As evidências da Federação Russa e da antiga União Soviética depois de 1990 mostram que a substituição do planejamento centralizado pelo capitalismo levou a um crescimento econômico imediato.
  • Na verdade, a antiga União Soviética tinha taxas de crescimento muito mais altas do que o Brasil, e seu PIB per capita chegou, mesmo que brevemente, a ultrapassar o da Argentina pouco antes do fim do governo do Partido Comunista, em 1990.
  • Tanto Nigéria como Botswana são ricos em recursos naturais. No entanto, o crescimento da Nigéria é dificultado pela corrupção generalizada e por práticas comerciais ilegais, enquanto Botswana é frequentemente descrito como o país menos corrupto na África e se orgulha de ter uma das maiores taxas médias de crescimento do PIB no mundo.
  • A Coreia do Sul foi um estado desenvolvimentista no qual o governo e algumas grandes corporações desempenharam um papel de liderança na condução do processo de desenvolvimento. Isso não necessariamente significa que esse sistema seja o ideal para todos os países.
  • O PIB per capita dos dois países caiu após 1990. Isso se deveu à insegurança em relação à propriedade privada, bem como à pouca concorrência em mercados e empresas que não operavam competitivamente no novo sistema capitalista. Essa transição abrupta de uma economia não capitalista para um sistema capitalista é muitas vezes chamada de “terapia de choque”.

1.11 A Ciência Econômica e a economia

ciência econômica
Estudo de como as pessoas interagem, entre si e com o meio ambiente, ao produzirem seu sustento e de como isso muda ao longo do tempo. Veja também: economia.

Economia (ou ciência econômica) é o estudo de como as pessoas interagem, entre si e com o meio ambiente, ao produzirem seu sustento e de como isso muda ao longo do tempo. Portanto, a ciência econômica trata de:

  • Como fazemos para adquirir as coisas que compõem o nosso sustento: como comida, roupas, abrigo ou tempo livre;
  • Como interagimos uns com os outros: enquanto compradores e vendedores, empregados ou empregadores, cidadãos e funcionários públicos, pais, filhos e outros membros da família;
  • Como interagimos com nosso ambiente: desde a respiração até a extração de matérias-primas da terra; e
  • Como cada um desses aspectos pode mudar ao longo do tempo.

Na Figura 1.5, mostramos que a economia faz parte da sociedade. Esta, por sua vez, faz parte da biosfera. A Figura 1.12 mostra a posição das empresas e das famílias na economia, os fluxos que nesta ocorrem e as interações entre economia e biosfera. As empresas combinam mão de obra com estruturas e equipamentos para então produzirem bens e serviços, que, por sua vez, são usados por famílias e outras empresas.

A economia das famílias e das empresas depende de uma biosfera saudável e de um ambiente físico estável.
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Figura 1.12 Um modelo da economia: Famílias e empresas.

A produção de bens e serviços também ocorre nos domicílios familiares, ainda que, ao contrário das empresas, as famílias podem não vender seus produtos no mercado.

Além de produzir bens e serviços, as famílias também “produzem pessoas” — a próxima geração da força de trabalho. O trabalho dos pais, dos cuidadores e de outros é combinado às estruturas (por exemplo, sua casa) e a equipamentos (o forno da sua casa, por exemplo) para reproduzir e preparar a futura força de trabalho das empresas, e as pessoas que irão trabalhar e formar outras famílias e lares no futuro.

Tudo isso se dá em um sistema biológico e físico, no qual empresas e famílias fazem uso do meio ambiente e de seus recursos, que vão desde combustíveis fósseis e energia renovável até o ar que respiramos. No processo, as famílias e as empresas não somente transformam a natureza ao utilizarem seus recursos, mas também produzem insumos que serão assimilados pela natureza. Os gases de efeito estufa são um exemplo atual desses insumos, que contribuem para as mudanças climáticas discutidas na Seção 1.5.

Exercício 1.11 Onde e quando você escolheria ter nascido?

Suponha que você pudesse escolher nascer em qualquer período de tempo, em qualquer um dos países da Figura 1.1a, 1.10 ou 1.11, mas você sabe que estaria entre os 10% mais pobres da população.

  1. Em qual país você escolheria nascer?
  2. Agora imagine que você sabe que estaria, inicialmente, entre os 10% mais pobres da população, mas teria 50% de chance de passar para os 10% mais ricos se trabalhasse arduamente. Nesse caso, em que país você escolheria nascer?
  3. Agora suponha que você somente possa decidir sobre o país e o período do seu nascimento. Você não tem certeza se nasceria na cidade ou no campo, se seria homem ou mulher, rico ou pobre. Em que período e em qual país você escolheria nascer?
  4. Para o cenário da opção (3), em que tempo e em qual país você menos desejaria nascer?

Utilize o que você aprendeu nesta unidade para justificar suas escolhas.

1.12 Conclusão

Durante a maior parte da história, os padrões de vida em todo o mundo eram semelhantes e mudavam pouco entre um século e outro. A partir de 1700, os padrões de vida aumentaram rapidamente em alguns países. Essa ascensão coincidiu com um acelerado progresso tecnológico e com o surgimento de um novo sistema econômico, o capitalismo, no qual a propriedade privada, os mercados e as empresas desempenham papel importante. A economia capitalista proporcionou incentivos e oportunidades para a inovação tecnológica, assim como gerou ganhos de especialização.

Os países diferem na eficácia de suas instituições e políticas governamentais: nem todas as economias capitalistas experimentaram crescimento sustentado. Hoje em dia, há enormes desigualdades de renda entre países e entre os mais ricos e mais pobres em cada país. Além disso, o aumento da produção foi acompanhado pela redução dos recursos naturais e por danos ambientais, o que incluiu as mudanças climáticas.

Conceitos introduzidos no Capítulo 1

Antes de prosseguir, reveja essas definições:

1.13 Referências

  • Acemoglu, Daron, and James A. Robinson. 2012. Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity and Poverty, 1st ed. New York, NY: Crown Publishers.
  • Augustine, Dolores. 2013. ‘Innovation and Ideology: Werner Hartmann and the Failure of the East German Electronics Industry’. In The East German Economy, 1945–2010: Falling behind or Catching Up? by German Historical Institute, eds. Hartmut Berghoff and Uta Andrea Balbier. Cambridge: Cambridge University Press.
  • Berghoff, Hartmut, and Uta Andrea Balbier. 2013. ‘From Centrally Planned Economy to Capitalist Avant-Garde? The Creation, Collapse, and Transformation of a Socialist Economy’. In The East German Economy, 1945–2010 Falling behind or Catching Up? by German Historical Institute, eds. Hartmut Berghoff and Uta Andrea Balbier. Cambridge: Cambridge University Press.
  • Coyle, Diane. 2014. GDP: A Brief but Affectionate History. Princeton, NJ: Princeton University Press.
  • Diamond, Jared, and James Robinson. 2014. Natural Experiments of History. Cambridge, MA: Belknap Press of Harvard University Press.
  • Eurostat. 2015. ‘Quality of Life Indicators — Measuring Quality of Life’. Updated 5 November 2015.
  • Kornai, János. 2013. Dynamism, Rivalry, and the Surplus Economy: Two Essays on the Nature of Capitalism. Oxford: Oxford University Press.
  • Landes, David S. 2003. The Unbound Prometheus: Technological Change and Industrial Development in Western Europe from 1750 to the Present. Cambridge, UK: Cambridge University Press.
  • Robison, Jennifer. 2011. ‘Happiness Is Love – and $75,000’. Gallup Business Journal. Updated 17 November 2011.
  • Seabright, Paul. 2010. The Company of Strangers: A Natural History of Economic Life (Revised Edition). Princeton, NJ: Princeton University Press.
  • Smith, Adam. 1759. The Theory of Moral Sentiments. London: Printed for A. Millar, and A. Kincaid and J. Bell.
  • Smith, Adam. (1776) 2003. An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. New York, NY: Random House Publishing Group.
  • Sutcliffe, Robert B. 2001. 100 Ways of Seeing an Unequal World. London: Zed Books.
  • World Bank, The. 1993. The East Asian miracle: Economic growth and public policy. New York, NY: Oxford University Press.
  1. Jean Baptiste Tavernier, Travels in India (1676). 

  2. Diane Coyle. 2014. GDP: A Brief but Affectionate History. Princeton, NJ: Princeton University Press. 

  3. Jennifer Robison. 2011. ‘Happiness Is Love — and $75,000’. Gallup Business Journal. Acesso em: 17 Nov. 2011. 

  4. ‘Quality of Life Indicators—Measuring Quality of Life’. Eurostat. Acesso em: 5 Nov. 2015. 

  5. Adam Smith. (1776) 2003. An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. New York, NY: Random House Publishing Group. 

  6. Smith, Adam. 1759. The Theory of Moral Sentiments. London: Printed for A. Millar, and A. Kincaid and J. Bell. 

  7. David S. Landes. 2003. The Unbound Prometheus: Technological Change and Industrial Development in Western Europe from 1750 to the Present. Cambridge: Cambridge University Press. 

  8. Paul Seabright. 2010. The Company of Strangers: A Natural History of Economic Life (Revised Edition). Princeton, NJ: Princeton University Press. 

  9. Mais detalhes do discurso de Winston Churchil sobre a Cortina de Ferro

  10. Hartmut Berghoff e Uta Andrea Balbier. 2013. ‘From Centrally Planned Economy to Capitalist Avant-Garde? The Creation, Collapse, and Transformation of a Socialist Economy’. In The East German Economy, 1945–2010: Falling behind or Catching Up? Cambridge: Cambridge University Press. 

  11. World Bank, The. 1993. The East Asian miracle: Economic growth and public policy. New York, NY: Oxford University Press. 

  12. János Kornai. 2013. Dynamism, Rivalry, and the Surplus Economy: Two Essays on the Nature of Capitalism. Oxford: Oxford University Press. 

  13. Dolores Augustine. 2013. ‘Innovation and Ideology: Werner Hartmann and the Failure of the East German Electronics Industry’. In The East German Economy, 1945–2010: Falling behind or Catching Up? Cambridge: Cambridge University Press. 

  14. Daron Acemoglu e James A. Robinson. 2012. Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty. New York, NY: Crown Publishing Group.